• #07 Ensaio sobre a Crueldade ou O encontro do Sr. Fatzer com a Rainha de Copas (2008)
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Rachel Rosalen

Artista visual com formação em Arquitetura e Urbanismo e mestrado em Multimeios na Unicamp. É bolsista pela Fundação Japão em Tókio (2004-2003). Seu percurso criativo é fortemente marcado pelo hibridismo entre linguagens e pela pesquisa sobre o corpo, iniciada com a dança e o teatro físico. Este percurso é construído em uma região de fronteira entre as artes do corpo, o estudo do espaço e a videoarte. Seus trabalhos manifestam-se na forma de vídeos, videoinstalações e outros processos transmidiáticos. Atualmente pesquisa o vídeo e a interatividade. Em 2004 participou das mostras: “Video and artist talk” (Embaixada do Brasil em Tókio), “Artist talk” (Artist Tokyo Initiative, Tókio-Japão) e “Video” (live images), performance de Chie Mukai, er-hu, Art Land (Tókio-Japão). Em 2003, exibiu sua produção nas mostras: “Açúcar invertivo II” (exibição dos video streamming FROM HERE > FROM NOW > Mukojima > New York e FROM HERE > FROM NOW > desert), “HOME > NOT HOME” (exibição do video no_places, Tókio-Japão) e na Hosei University (Tókio-Japão), exibiu os vídeos Fluorescências, no_places_01, All my silence, A GLASS OF AIR, Perspective Emotion #6 – To the Unknown Horizon (collective improvisation with chance meeting). Os circuitos que envolvem seus trabalhos em vídeo tem sido: o vídeo Fluorescências foi apresentado, entre outros lugares, na “Mostra 50 anos de vídeo no Brasil” (Itaú Cultural, São Paulo-SP), Mostra VideoSur, Galeria El Aleph (Roma-Itália), State University of New York no Mês de Cultura Latina (Nova York-EUA), e na Mostra do Áudio Visual Paulista, CCBB (São Paulo-SP); o vídeo A GLASS OF AIR foi exibido na Mostra do Áudio Visual Paulista, CCBB (São Paulo-SP) e Mostra de Vídeo do Itaú Cultural (Belo Horizonte-MG) e o vídeo in.desertos foi exibido na Mostra do Áudio Visual Paulista, CCBB (São Paulo-SP).

Paula Alzugaray

A primeira vítima da guerra é o conceito de realidade
Paul Virilio

Sete tempos são necessários para Rachel Rosalen orquestrar um duelo entre o real e o imaginário. A considerar seu repertório cênico, pode-se dizer que # 07 Ensaios sobre a Crueldade é organizado em sete atos.

No primeiro ato, somos apresentados à protagonista dessa história que será contada em uma videoinstalação composta por dois canais. A inserção de frames de ilustrações de Alice, de Lewis Carroll, nos dá a pista sobre sua identidade. A Alice interpretada por Rosalen é tão ingênua e delicada quanto a outra. Mas só até ser despertada pela guerra. A personagem de Carroll dorme para viver sua aventura. Esta acorda. Vive quando deixa de ser passiva.

O embate entre a menina e a crueldade começa na temperatura das imagens. A guerra é quente, crua. A ficção é verde, tem iluminação, cenário e figurino elaborados. Conta também com trilha sonora original, editada sobre material produzido pelos músicos Thomas Rohrer e Antonio Panda Gianfratti em ensaios de livre improvisação e nas apresentações da fase anterior do projeto, o live-cinema Ensaio sobre a Crueldade ou O Encontro do Sr. Fatzer com a Rainha de Copas # 03.

Rachel Rosalen parte de situações cênicas, mas seu trabalho é constituído por performances feitas para a câmera, contrapostas a um grande arquivo de imagens de guerra. Sua Alice também pertence a outra geração: é uma construção contemporânea, narradora de uma história não linear, dentro de uma estrutura de cinema expandido. A câmera é sua principal antagonista. No ensaio # 03, essa relação se configura. Uma arma (no campo da realidade) é justaposta a uma câmera fotográfica (no campo da ficção), apontada para Alice. Essa mesma câmera, que seduz e ameaça a menina, é o instrumento de poder e monitoramento que fabrica informação sobre a realidade. Temos aqui a representação de uma sociedade vigiada. Nós, espectadores, somos aqueles que no ensaio # 04 moemos a carne mecanicamente (e somos moídos), observados pela câmera.

Assim como as imagens captadas por instrumentos de vigilância, as imagens de guerra têm dupla condição. De um lado, são formas de manipulação que deixam a nós, espectadores, paralisados, tão ignorantes quanto soldados que são lançados às trincheiras, impelidos a agir conforme planos que não conhecem, ou de acordo com uma moral que não têm. Por outro lado, podem vir a funcionar como espaços de descontrole – ou de reação ao controle. Ao oferecer ópio para a câmera, Alice nos indaga sobre nosso entorpecimento. Essa é, sem dúvida, uma forma de reagir a estas políticas perversas do poder. A substância que Rosalen nos oferece dentro daquele narguilé são estratégias artísticas de resistência.

# 07 Ensaios sobre a Crueldade é parte de uma série de obras que querem criar microrresistências à guerra. Rachel Rosalen toma o partido do enfrentamento e da superexposição à imagem como remédio contra a escuridão.
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