Carla Zaccagnini
Todo desenho é registro. Quer seja registro de um ou de uma série de gestos, quer seja registro de um ponto de vista e de uma maneira de olhar. O desenho é sempre o resultado de um processo que é ainda passível de revisão entre os traços finalizados, ao contrário do que ocorre em outras manifestações das artes visuais em que o resultado aparece congelado, sem profundidade temporal. Há, entretanto, situações em que esse processo se sobrepõe e se afirma com mais força, em que o desenho-resultado é um resto, uma sobra, um resquício, um resíduo do processo formador.
Nesses casos, a ação constitutiva do processo pode, ou não, ser parte integrante da obra. Há trabalhos em que a ação continua insinuando-se no desenho, sendo um dado que completa seu sentido, sem se mostrar explicitamente ao público. Quando é assim, as particularidades acessórias da ação não importam, sua qualidade estética ou poder simbólico, não se inserem na obra. Conta somente o princípio da ação que gerou o resultado que se dá a ver.
Por outra parte, há ainda os desenhos-restos nos quais a ação é necessária como constituição da obra, como parte indissociável do resultado apresentado, com todo seu valor poético e plástico. São trabalhos em que ação e resultado nascem juntos e são indissociáveis. Esses são os casos em que o desenho resulta de uma performance e permanece quando a ação termina, como lembrança e testemunho.
Toda performance é ação. Quer seja um conjunto de gestos e atos, quer seja demonstração ou exemplificação de uma maneira de atuar. Toda performance é sempre a apresentação de um processo antes que esteja finalizado. A apresentação ao público de uma ação em tempo real, ao contrário do que ocorre em outras manifestações das artes visuais em que o resultado aparece congelado, sem profundidade temporal. Claro que há também situações em que esse processo gera resíduos, resquícios e restos que resultam da ação e podem conduzir, posteriormente, a uma reconstrução inversa da ação que os formou.
Nesses casos, o resultado derivante do processo pode, ou não, ser considerado parte integrante da obra. Esse resultado pode ser apagado ao final da performance, sendo visto somente pelos que acompanharam o desenvolvimento da ação. Esse resultado pode, entretanto, permanecer unicamente como resíduo ou como um elemento que atesta o acontecimento anterior. Em ambos os casos, as particularidades acessórias desses restos não importam, sua qualidade estética, ou poder simbólico não se inserem na obra. Conta somente o princípio da ação que gerou o resultado que se dá a ver.
Por outra parte, há casos em que certas características que se quer atingir nos resultados determinam e configuram a ação, definem o conjunto de gestos empregados, a sua repetição, as transformações no tempo, a narrativa. São trabalhos em que ação e resultado nascem juntos e são indissociáveis. Esses são os casos em que da performance resulta um desenho que permanece quando a ação termina, como lembrança e testemunho.