O trabalho de Juliano de Moraes é daqueles que provoca o público e o incita a refletir, seja por não se apresentar como algo explicável racionalmente, por não se franquear completamente à percepção, ou porque jamais poderá ser aproximado de um simples devaneio. Ao mesmo tempo em que se afasta de uma vertente estritamente conceitual, de modo algum sua pesquisa se reduz à solução de problemas apenas formais.
Lidando com desenho, pintura, escultura e instalação, trata-se de uma investigação que vem abordando de modo singular a paisagem – em particular os amplos espaços externos como os campos destinados as pastagens, frequentes no planalto central e em Goiânia, cidade em que vive o artista -, e a acomodaçãoo, adaptação e transposição desses lugares externos em espaços fechados de edifícios ou salas de exposição. Essa relação entre dentro e fora se dá não apenas quando o artista se apropria de plantas como a grama e a incorpora aos seus projetos, como, por exemplo, na Paisagem secreta montada recentemente no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, em que realizou no antigo cofre da agência bancária uma espécie de jardim infestado por esferas e cupinzeiros de sal. A reflexão sobre a natureza como um lugar público de plena liberdade versus seu aprisionamento e adequação às necessidades privadas que tende a transformá-la em produto, dominando-a e destruindo-a completamente, faz parte do processo de elaboração de seu trabalho.
Para Juliano, a natureza não é mais algo que pré-existe independente da atividade humana, algo já dado, mas é sempre uma natureza construída, uma natureza moldada pela cultura. Afinal, a relação que o indivíduo urbano contemporâneo tem com o mundo parece, antes de tudo, mediada por uma série de modelos criados pelo próprio ser-humano.
O resultado é que o trabalho de Juliano se apresenta como se fosse esvaziado de conteúdos e significados imediatos, sabendo lidar com certa apatia presente não apenas no mundo da arte, mas também fazendo referencia ao estado atual em que a técnica subordina tudo aos seus propósitos nem sempre funcionais.
O artista, principalmente em suas instalações, costuma valorizar a força metafórica dos espaços, sejam cofres, contêineres ou os espaços por ele desenhados. Do mesmo modo, ele explora as qualidades simbólicas dos materiais. Metal, madeira e graxa, recorrentes em sua poética, podem adquirir sentidos e funções diversos. Ora a graxa é o elemento que lubrifica e dá durabilidade às peças de ferro, ora é usada como pigmento de seus desenhos, ora, concentrada, adquire volume e a forma de um tumor. O trabalho de Juliano é fecundo, além de nos tirar do estado de esmaecimento dos sentidos, nos faz reconhecer na presença física e na materialidade de sua obra uma força que, em vez de ser engolida pelo mundo, dele se apropria para nos fazer pensar.