A artista confere significado ao uso das coordenadas horizontal e vertical (coletivo e individual; público e privado). Ela formata esse esquema em qualquer superfície, o que sugere tratar-se de uma estrutura expansiva ao infinito. Sua trama de relações, entretanto, não tem por objetivo uma harmonia dinâmica: ao esmaecer contornos, ao parodiar a rigidez, ao devolver a textura ao plano, a obra visa claramente a desarmonia.

Desarmonia do legado moderno, bem entendido. Na instalação de Sheila Mann Hara, público e privado estão imiscuídos e a privacidade acabou. Em uma experiência anterior (Casa Blindada, 2000) as linhas vermelhas e pretas circunscrevendo quadrados brancos eram fitas auto-adesivas sobre azulejo de cozinha. Na obra feita para a Temporada de Projetos, uma pintura serviu como matriz para uma estampa que, aplicada, serviu de forro para cadeiras, puffs, chão e parede, além de arremedar-se em cortina.

A transposição de um vocabulário conhecido da história da arte para suportes pouco nobres (se comparados à capacidade de transcendência imanente à tela branca) não se trata, aqui, de engajamento produtivista para transformar arte em utilitário ou arte em vida. Basta saber que a instalação não é para ser adentrada. 

O grande nó das amarrações teóricas deste trabalho reside na tela pregada à parede dentro do espaço simulado. Lá está, camuflado pela cena, um óleo sobre tela à la Mondrian. O que a artista quer nos dizer com isso? Que tudo se equivale? Que a arte moderna é o kitsch de hoje? Desvende o nó, se quiser.

Pattern nº 8

Sheila Mann Hara

  • Pattern nº 8 (2002)
    tecido estampado
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Juliana Monachesi

Juliana Monachesi é jornalista e crítica de arte, repórter da SeLect, revista bimestral de cultura, e colaboradora do Canal Contemporâneo. Foi repórter e redatora dos cadernos Ilustrada e Mais!, na Folha de S.Paulo, de 1999 a 2010, e atua como crítica do programa Temporada de Projetos desde 2001.

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