O presente trabalho de Lali Krotoszynski para a Temporada de Projetos, seduzido pelos fabulosos recursos tecnológicos, investiga as relações entre a dança e a participação dos espectadores. Sensores espalhados no espaço e acionados aleatoriamente pelo público ativam a execução de pequenas trilhas sonoras. Essas peças musicais, compostas por Beth Bento especialmente para o projeto a partir de uma série de pequenos vídeos, em que a artista dança envolvida no silêncio, estão montadas em loop. De acordo com a ação do público, que pode regular a sonoridade com seus deslocamentos, partes das músicas se sobrepõem e se intervêm simultaneamente. A instalação, que funde diversos meios de expressão, provoca, além da interação com a música, uma interdependência entre os diversos registros da dança da artista e o andar, ritmado ou não, do participador. 

Em obras anteriores, como em Dance juke box, trabalho interativo na internet, a ligação entre música e dança já havia se tornado imaginária. Nela, o observador escolhia e agrupava casualmente, a partir de possibilidades finitas, coreografias e trilhas sonoras, cabendo a ele ajustar mentalmente o som à imagem. Nesse projeto, de 1999, havia uma semelhança com a dança mecânica de bailarinas de caixinhas de música. Aqui, em Ocupação, as imagens editadas e tratadas, apresentam sequências mais abstratas e closes de fragmentos do corpo da artista. 

O ambiente em que são projetados os vídeos, tomado pela fumaça que torna quase invisível os limites da sala, perde aos poucos sua aparência estática e passa a ser percebido de um modo mais fluido, como se efetivamente se movimentasse. O que de fato ocorre é o deslocamento do projetor, mas a sensação é de que o espaço é distendido e ocupado pela imagem espacializada. Projetado sobre um vapor que se espalha no ar, o corpo da artista, dançando, flutua sobre a sala. Sua presença embaralha o virtual e o atual. Do mesmo modo, os vultos de visitantes se confundem com a projeção. 

Desde os anos de 1980, a artista, além de trabalhar em parceria com Renato Cohen em diversos espetáculos, tem desenvolvido projetos que exploram recursos tecnológicos e suas relações com a dança. Em colaboração com o artista Mário Ramiro, participou, já em 1986, de intercâmbio internacional que explorava as possibilidades poéticas em suportes tecnológicos. Recentemente, realizou o espetáculo Entre, em que partiu de dois textos com descrições da mesma coreografia - um deles bastante técnico e outro abstrato e poético. Em um dos desdobramentos do projeto, propunha que o público interpretasse as indicações do segundo texto e, posteriormente, montasse pequenos vídeos a partir de suas coreografias improvisadas. 

A participação do espectador, a dança e a pesquisa sobre novos meios expressivos sempre nortearam as experiências de Lali Krotoszynski que, valorizando o movimento do corpo e sua relação com a tecnologia, retoma e atualiza alguns pressupostos da vanguarda futurista do início do século XX, e repensa a relação entre espaço virtual e atual.

Ocupação

Lali Krotoszynski

  • Ocupação (2000-2004)
    instalação cênica
  • Ocupação (2000-2004)
    instalação cênica
  • Ocupação (2000-2004)
    instalação cênica
Small_arrow_left Small_arrow_right

Cauê Alves

Cauê Alves (São Paulo, Brasil, 1977) é professor do curso Arte: história, crítica e curadoria, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É curador do Clube de Gravura do Museu de Arte Moderna de São Paulo e realizou, entre outras curadorias, MAM[na]OCA: arte brasileira do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo (2006), a mostra Quase líquido, Itaú Cultural (2008) e Da Estrutura ao Tempo: Hélio Oiticica, no Instituto de Arte Contemporânea (2009). Atualmente está preparando uma exposição monográfica sobre Mira Schendel (2010) e será curador do Panorama da Arte Brasileira do MAM (2011) e curador adjunto da 8ª Bienal do Mercosul (2011).

  • Realização: