Luise Weiss e Daniella Samad
Acompanho os trabalhos de Elisabete Perez, Mônica Rubinho, Raquel Garbelotti e Sidney Philocreon, há algum tempo, ainda como alunos do Curso de Artes Plásticas na Faculdade Santa Marcelina. Observei com interesse a trajetória de cada um (coloco-me apenas como uma observadora atenta), o esforço e o empenho individualmente, e em outros momentos, nas conversas coletivas, a busca da poética visual de cada projeto. Os germes dos trabalhos já estavam ali visíveis: nas pinturas espessas de Elisabete, nas construções de Mônica, nas miniaturas/objetos de Raquel e nas imagens e objetos de Sidney. Durante o último encontro conversamos sobre questões pertinentes à montagem da exposição, tais como iluminação, etc .... Questões que indubitavelmente revela m preocupações com a visualidade inerente aos projetos, e como a participação do espectador é importante nas descobertas das instalações:
Elisabete expõe pinturas /objetos, caixas contendo no fundo pinturas realizadas com encáustica. O ângulo certo, a proximidade e a iluminação são imprescindíveis para visualizar o que as pinturas quase escondidas revelam sob camadas espessas de cera;
Mônica, por sua vez, convida-nos a uma sala branca, cuja as paredes são pacientemente cobertas com 175 metros de linha bordada, obsessivamente, talvez. Ao completar o espaço criado, o nosso olhar completa a trajetória do tear: vai e volta em linhas paralelas, entrelaçando em fios brancos e prateados, o tempo fugaz;
O trabalho de Raquel (como o de Elisabete), obriga a um olhar atento, com aproximações e afastamentos. Um espaço contendo construções que nos lembram fragmentos de sonhos, ilusões (ou até pesadelos ... ), centralizados na imagem refletida de uma esfera cristalina. É ali, nesse exato ponto, que nos vemos incorporados ao trabalho.
Sidney, em seu espaço, reúne imagens e objetos - um sino que não toca, um pé cravejado de espinhos, 500 m de fitas manuscritas e um coração cristalizado em frente a um livro fotográfico no painel, recortes do cotidiano. O soar do sino, o ritmo das imagens, o dizem.
Cada um, da sua maneira revela-nos por imagens e objetos, fragmentos de lendas perdidas no cotidiano: os mitos que falam do tempo, da vida/morte entrelaçados e vislumbrados nas obras de Sidney, Raquel, Mônica e Elisabete.
Luise Weiss
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O menos é aqui mais. Arquitetura do ar. Ar tátil, tangível. Raquel Garbelotti, parece ironizar os valores da visual idade contemporânea quando nos faz pensar no vazio como valor de positividade. Nosso olhar brinca na superfície! Somos espectadores em trânsito. O olhar está em trânsito, nômade numa busca de conforto em cada prateleira. O espaço é egoísta. O ar ricocheteia na caixa torácica do cubo branco. Espaço-garganta. Tudo é um grande mimetismo. A pele é a do olhar. Tudo está úmido, tudo é transparente; água. Tudo é mercúrio, reflete e molha ... O trabalho cintila e nos faz ofuscar na tentativa de apreendê-lo. Nosso olhar não cabe nas arestas e pés-direitos: o apelo tátil não se acomoda. As paredes são poros, se dilatam, nos sugam. Não deciframos. Somos devorados. Tudo se reencanta. Vemos o mundo pela lente do artifício. Entramos no espelho. O espaço nos reflete e nós o refletimos. Corpos de espelho. Um interpenetra o outro como gaze, nuvem. Tudo é névoa, leveza e transparência. Tudo é gasoso. Restam as sombras. Aconchegantes habitações. Tudo some em meio ao branco. Tudo é suspenso. Tudo é vento. Inspiramos.
Daniella Samad