Ana Raylander
Ana Raylander procura estabelecer um diálogo entre a história coletiva e sua própria história, envolvendo grupos de pessoas para colaborações. Com formação em palhaçaria, bacharelado em artes pela Universidade Federal de Minas Gerais e arte e multimédia pela Escola Superior Gallaecia, Portugal, entende sua atuação como um fazer interdisciplinar. Vem recorrendo aos saberes da educação, escrita, performance e brincadeira para discutir urgências em projetos de longa duração. Foi contemplada com a residência de pesquisa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2021), arte contemporânea na Adelina Instituto, São Paulo (2019) e o Prêmio de Residência EDP nas Artes, do Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2018). Realizou projetos pelo Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo (2018) e pela Apexart de Nova York (2021).
Em Willian, Ana Raylander opera as dubiedades e as alterações de estado entre a forma natural da lágrima, o primeiro controle feito pela tatuagem e, por fim, a cristalização da imagem fotográfica que mais uma vez confronta o fluir daquele líquido, as energias e os sentimentos que ele carrega. Lágrima e fotografia são, afinal de contas, dois produtos compostos por água e sais, entre outros elementos. Nesse sentido, as lágrimas de Willian, tatuadas e retroiluminadas, não deixam de equivaler à própria lógica fotográfica. O choro tatuado que também foi projetado.
Em uma das salas de exposição do Paço das Artes, no Casarão de Nhonhô Magalhães, localizado no bairro de Higienópolis (SP), Willian, aguardava a presença de cada visitante que por lá passasse. Quem assim o fez encontrou-o disposto em um pequeno espaço de teto baixo e profundidade mediana, fragmentado em diversos elementos: na forma de lágrimas projetadas, tatuadas, assim como na de duas lágrimas rigidamente pigmentadas e secas, azulejadas em mosaico. Seu nome estava caligrafado e fundido em grades de aço, um tanto oxidado, pendurado verticalmente em uma grade do mesmo material. Por fim, um texto afixado na parede oferecia outros sinais de sua presença, de sua história.
Tal arranjo de elementos identificava a presença de Willian, como uma proposta instalativa de Ana Raylander para a Temporada de Projetos 2023. Dando continuidade à sua prática em coralidade, que estabelece diálogos entre a história coletiva e histórias particulares, a artista encontra em Willian, uma persona que preenche ambas as camadas narrativas. A coralidade dispersa nos objetos atualiza um de seus projetos de longa duração acerca do território conflituoso entre o choro e a masculinidade, potencializando, nesse caso em especial, o contexto prisional, isto é, uma população inteira de homens racializados encarcerados, e tomando a tatuagem como imagem mediadora entre o apenamento e a realidade pós-libertação. A particularidade e a ficcionalidade real de Willian, rebatem a coletividade e a realidade ficcional dos marrons. Encarceramento e aquilombamento, aprisionamento e libertação.
Realização: