Christine Mello

Abaixo, a entrevista de Maíra Dietrich a Christine Mello sobre a mostra "VISÃO PERIFÉRICA".


Quando imergimos na exposição "VISÃO PERIFÉRICA", de Maíra Dietrich, sustentamos algo, a princípio, insustentável: a coexistência de espaços simultâneos por meio de uma certa ”dispersão aguçada”. Como pequenos gestos  se constituem quando submetidos a forças insustentáveis? A presente pergunta pode nos ajudar a produzir relações diante  de uma experiência como esta, que se organiza nas tensões e tessituras do indeterminado. A instalação "VISÃO PERIFÉRICA" acolhe, desse modo, procedimentos ambíguos como o de explorar algo que não se está procurando ou a edição de cenas sutis, efêmeras, imaginárias. Para tanto, Maíra Dietrich permeia o espaço com um tom pessoal, intimista, propício ao encontro com o outro. Visão Periférica é uma peça de áudio, uma mostra de slides, uma reunião de papeizinhos e pequenos poemas. Apresentados sob a qualidade de rascunho, articulam a  presença do visitante em estados perceptivos como o de estar ”fora do  foco  da  visão”. Busca oferecer, com isso, a sensação de se estar, de certa forma, descentralizado e vulnerável. Para saber mais sobre a noção de visão periférica em Maíra Dietrich, conversei com a artista.
 
Maíra Dietrich: Lembro de ter escrito sobre esse ter- mo no meu trabalho de conclusão de curso em 2011, é um livro que chama “Mais ou menos cinco meses”, aonde decidi que meu trabalho seria sobre o tempo que eu tinha até a data de entrega dele. Então, ele foi um trabalho oficialmente sem um tema e nele busquei tratar da passagem do tempo. A única certeza que eu tinha é que queria que ele comprimisse tempo dentro dele. Que pudesse ser sobre coisas que eu observava, coisas que eu ouvia, desenhos, viagens, como um aglomerado, um catalisador de pequenas coisas, e que pudessem explicar algum tipo de abordagem sobre a vida cotidiana também.

Eu comecei a pensar na visão periférica como esse fenômeno de percepção que acontece fora do foco da visão: tudo que você vê, mas, ao mesmo tempo, não está olhando, que implica uma postura ambígua em relação a quem está percebendo quem, quem está vendo e quem está sendo visto. Mas eu acho que a chave da visão periférica, como metodologia de trabalho, é, principalmente, a simultaneidade. Estou ouvindo uma coisa, estou vendo uma coisa e, ao mesmo tempo, estou ouvindo o que alguém comenta daquilo. Então, a forma como eu trabalho o áudio no espaço sugere uma negociação desses assuntos, sugere formas desses textos, palavras e sons se construírem em relação uns aos outros. Diferente do que seria o foco onde enfileiramos sentido ao ver uma coisa e depois outra e depois outra. Visão Periférica é um termo pelo qual eu tenho muito carinho, por ter encontrado nele uma chave, uma metodologia airada do meu trabalho.

VISÃO PERIFÉRICA

Maíra Dietrich

  • Imagem da exposição “VISÃO PERIFÉRICA”, de Maíra Dietrich
  • Imagem da exposição “VISÃO PERIFÉRICA”, de Maíra Dietrich
  • Imagem da exposição “VISÃO PERIFÉRICA”, de Maíra Dietrich
  • Imagem da exposição “VISÃO PERIFÉRICA”, de Maíra Dietrich
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Christine Mello

Christine Mello é pesquisadora, professora e curadora no campo das mediações tecnológicas. É doutoranda em Comunicação e Semiótica na PUC-SP, com estudos sobre o vídeo no Brasil. Realiza acompanhamento e leitura crítica de criadores em diversos meios, assim como projetos curatoriais relacionados ao vídeo e às novas mídias. Em 2003 fez parte da Comissão de seleção e programação do 14º. Festival internacional de arte eletrônica Videobrasil e a curadoria da exposição “Imagem não imagem” para a Galeria Vermelho, ambos em São Paulo. Em 2002 fez a curadoria de net art da representação brasileira para a 25ª. Bienal Internacional de São Paulo, integrou o corpo de curadores do Artmedia VIII (evento internacional organizado pelo Observatório Leonardo de arte e tecnologia – OLATS) e realizou também curadorias para: o L.A. Freewaves Festival (Los Angeles, EUA) em conjunto a Arlindo Machado; para a 3ª. Muestra Internacional de Videoarte do Museu de Arte Moderna de Cartagena (Colômbia) e para a Usina do Gasômetro (Porto Alegre), em que empreendeu a curadoria “Enfrentamentos contemporâneos – retrospectiva Lucas Bambozzi”. Foi membro do Júri do 3º Prêmio Cultural Sergio Motta (2002), dedicado à arte-tecnologia. Possui artigos sobre artemídia publicados em coletâneas de livros e revistas científicas, como Made in Brasil: três décadas do vídeo brasileiro, organizado por Arlindo Machado e Cibercultura 2.0, organizado por Lucia Leão.

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