Geraldo Zamproni
Geraldo Zamproni cursou Arquitetura e Urbanismo na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Desde 2000, dedica-se integralmente às artes visuais, tendo frequentado o Centro de Arte Contemporânea Edílson Viriato de 2002 a 2007. Participou de exposições coletivas em Buenos Aires, Argentina (Fundación Rómulo Raggio); Madri, Espanha; Texas, EUA (Coletiva Plano Arte); Kobe, Japão (Hyogo Prefectural Museum of Art). Expôs individualmente no Museu da Gravura, em Curitiba, Paraná. Dentre outros, recebeu o Prêmio Agora Gallery em Nova York, EUA.
Cauê Alves
Os fragmentos de arquitetura presentes no trabalho de Geraldo Zamproni não são partes isoladas e perdidas de algum edifício singular e específico. Trata-se de elementos tão essenciais que poderiam integrar qualquer construção. Há neles um grau de abstração próximo da universalidade.Entrevista com Geraldo Zamproni, por Cauê Alves
Leia a seguir uma edição da entrevista que o curador Cauê Alves fez por e-mail com Geraldo Zamproni, artista selecionado para a Temporada de Projetos 2010 do Paço das Artes.
Cauê Alves: Algo importante na sua formação é o estudo em arquitetura e no seu trabalho você reaproxima a escala da arquitetura da escala do corpo humano.
Geraldo Zamproni: Houve esta preocupação com ergonomia sim, um cubo de concreto com 30 cm é fácil de lidar e sobrepor, considerando que seu peso age no sentido vertical comprimindo e estabilizando o pilar “o zíper conteria esforços laterais”. Com área de 30 cm2, pilares possibilitam um segundo pavimento.
CA: Mas como você vê a relação entre seus trabalhos tridimensionais e o campo da moda, dos vestuários, uma vez que você usa o zíper que é uma invenção que revolucionou a fabricação das roupas?
GZ: Esta pergunta é literalmente engraçada porque no período que morei em Campo Grande - MS, meu irmão montou uma confecção de roupas e eu sem opção de escolha participei como sócio; foi uma experiência catastrófica, traumática de quatro anos a qual prefiro esquecer. Imagino que uma experiência com essa carga negativa não tenha canalizado este meu trabalho. É muito interessante estabelecer essa relação talvez poética; Arquitetar implica em elaborar, criar, surpreender, inovar, armar, estruturar; Roupa, (moda) também é isto, com a diferença que não há o estrutural (talvez), mas, com elementos similares como cor, tamanho, praticidade, conforto, finalidade e alguns elementos mais que certamente podemos encontrar numa análise mais apurada. Nesta série me interessa o estrutural com certo apelo de “brincar de construir” sem sujar e sem a necessidade de outrem especializado para a lida. E trago um elemento da moda para criar essa possibilidade.
CA: As peças que você constrói, especialmente as colunas e escadas, acabam não tendo nenhuma função estrutural ou funcional nos ambientes em que são exibidas. A coluna não sustenta nada e a escada não pode ser usada. Você acha que nesse sentido elas se aproximam do campo da cenografia ou de uma espécie de simulacro?
GZ: Quando conversamos ainda sem ter claro o que seria feito no Paço, uma das propostas era criar um espaço como numa feira de arquitetura que estivesse lançando um novo produto, o bloco de concreto com zíper, nesse espaço o observador poderia interagir com os blocos montando e desmontando pilares ou simplesmente unindo dois blocos, porém, considerei a dificuldade do manuseio desses blocos com zíper e adotei o projeto atual. Uma espécie de simulacro me parece adequado uma vez que a intenção era mostrar como ficaria um pilar de blocos de concreto ligados por zíper. Quanto a não função talvez uma estratégia inconsciente de marketing, e que você numa definição de mestre chamou de estrutura volátil.
CA: Digo isso porque o “cimento aparente” delas não é cimento de verdade e o verdadeiro material das peças está camuflado.GZ: Isto me preocupa sim, ainda tenho a intenção de fazer um bloco, mesmo que oco, de cimento com zíper, apesar de não ter encontrado ainda a maneira de lidar com os dois. Um estudo que imagino que tenha um resultado muito mais interessante. Por outro lado, antes de tentar o concreto “verdadeiro”, fiz um estudo do pilar com reaproveitamento de tapumes/ madeirite descartado, criando blocos maciços ligados por zíper, uma opção extremamente (verde) ecológica. No entanto, curiosamente, este trabalho não causa a menor reação nas pessoas que se voltam imediatamente para o concreto e zíper, se encantando ainda mais ao constatar ser um falso concreto e que parece flutuar.
Realização: