A exposição é composta por dois momentos.
Penso o trabalho como um organismo. Sinto meu coração batendo, o centro da máquina.
Inicialmente com uma abordagem mais ampla, substâncias líquida e pó tomam "corpo" através do contato com o papel e dialogam entre si tensão, embolotamento, alívio e dispersão. Tudo trabalha num constante rebatimento das tintas sobre o papel e ou a tinta sobre o papel sobre o próprio papel ou sobre um outro, que resultará em um novo desenho. Com uma simplicidade na ação e a não interferência de atitudes ordenantes, surgem questões básicas.
Não seria inesperado aquilo que já possuímos. Num segundo momento, a ação parte da linha que percorre um eixo central e gravitacional (o sentido da artista com relação ao centro da Terra) e em seguida dobro o papel criando um desenho com partes análogas. O verniz é fossilizado pelo pó (de camurça ou metálico) que aterrizou propositadamente sobre o papel congelando a ação.
Com o fato de ter iniciado uma pesquisa que se relacionava às simetrias ocorreu-me estar trabalhando com um princípio de como as coisas nascem. Por que você tem uma perna igual a outra ou por que o lado direito de um osso se parece com o esquerdo? Haverá muitas explicações científicas para a resposta mas na verdade não pretendo tanto. Meu interesse reside no fato de experimentar num gesto simples a ocorrência de questões complexas. Um organismo que se compõe e se interrelaciona. Funcionamos como um todo e o processo de nossa história e criação fazem parte da nossa essência. A "simplicidade" de poucos gestos pode revelar, pois abre caminho para uma intenção maior e infinita.
Ana Amélia Genioli