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Karola Braga

Karola Braga é artista e pesquisadora olfativa, mestre em poéticas visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA USP) e bacharel em artes plásticas pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP). Em seu trabalho, a artista busca explorar a problemática da relação ausência x presença, memória x esquecimento, trazendo as dualidades como temática que permeiam grande parte de sua produção. Um elemento recorrente em seu trabalho é a esfera olfativa. Por serem carregados de construções simbólicas e culturais, e pela sua potência em evocar memórias – individuais e coletivas –, os cheiros são pontes escolhidas pela artista para desafiar percepção e espaço, criar sensações, acessar lembranças e, sobretudo, contar histórias. Desde 2015, participa de exposições e prêmios em importantes instituições no Brasil e em países como França, Alemanha, Estados Unidos, Suíça e Irã. Integrou o Programa de Residência Artística da Cité internationale des arts em Paris pela Fundação Armando Alvares Penteado (2017) e Kooshk Residency em Teerã, contemplada pelo prêmio Kooshk Artist Residency Award – KARA, Portugal (2018). Foi nomeada para o Programa de Bolsas e Comissões do Cisneros Fontanals Art Foundation 2020 (Miami, EUA) e Bloom Art Prize Weihenstephaner 2019 (Colônia, Alemanha). Participou da 13ª Bienal do Mercosul e está entre as finalistas do 9th Art and Olfaction Awards de Los Angeles, na categoria Sadakichi Award for Experimental Work with Scent.

 

No projeto Lembranças de um baile de carnaval (apresentado no Paço das Artes, São Paulo, em 2023, momento em que, convalescentes e calejades de tanto luto, tentamos nos reerguer com o fim da Emergência de Saúde Pública referente à covid-19), Karola Braga nos convida aos sentidos olfativos de um carnaval – festa, desbunde, celebração popular da qual tanto nos ressentimos. E logo pelo cheiro, pelo olfato, a artista constitui um espaço que conta histórias para estarmos juntes numa fantasia de real.  

O que nos acontece se dissemina de acordo com as palavras e os interesses de quem nos vê de cima. O modo como esses discursos são produzidos e distribuídos rima quase sempre com negligência, apagamento, invisibilização, com um protagonismo de “grandes figuras”. Trata-se de histórias com fontes “oficiais” que pulverizam monumentos nas cidades e paradigmas dedicados à posteridade. Com essa instalação, Karola nos provoca a imaginar o que seria de nós e das coisas que conhecemos se as fabulações se despedissem de sua pretensa hegemonia. Assim, sua poética pode ser pensada a partir de uma perspectiva de memória e projeto, em simultaneidade e convivência, promovendo entrelaçamentos de desejos possíveis nesse tempo/lugar que chamamos de contemporaneidade. E, sim, o carnaval é um chão a se pisar e de onde podemos imaginar pessoas, lugares, músicas, modos de estar aqui e performar subjetividades. 

A instalação conta com um nebulizador, textos e pequenas esculturas de cerâmica que emulam uma embalagem de lança-perfume, além de confetes e serpentinas. Os tons de rosa que cobrem paredes, objetos e mobiliários constituem uma atmosfera onde vozes, memórias, pensamentos parecem ali encontrar pouso, onde histórias podem ser inventadas, fabulações podem ser narradas. Sentimos com o corpo os cheiros nos revolvendo, fazendo-nos dançar numa coreografia temporal entre o aqui-agora, outros carnavais e os que virão. Bailes, farras e os muitos cheiros narram e exalam: uma criança, o perfume de sua mãe, o homem gay que passeia no baile, uma outra mulher que seduz os foliões, o beijo de apaixonades, amigas bebendo. Compartilhamos, então, o mesmo ambiente com o suor que gruda os corpos, as salivas que escorrem entre as bocas, a bebida que escapa dos copos, a urina que empesteia os banheiros, os doces, cítricos, azedos fluindo… e segue o baile. 

  • Realização: