Começou num atelier fora da cidade onde, fazendo contra ponto ao bucólico que via através da janela, usava fios de ferro com os quais costurava suas telas. Assim ficou por muito tempo na encruzilhada entre o verde e a força do mundo industrial. Não que soubesse disso na época. A posteriori é fácil teorizar.
Mudou para a cidade, o verde foi substituido pelas casinhas da Vila Madalena. E o fio de ferro já não era mais contraponto à nova paisagem. Entre uma casa e outra, um galpão e outro, em tudo para além do vidro da janela do atelier, estava seu pai, Vicente Mecozzi, não em pessoa mas no tema dos seus quadros que seguiram de longe a temática do grupo Santa Helena.
Como filha e artista, ao voltar à paisagem Santa Helena, quis desesperadamente fotografar um mundo com os olhos do pai. Foi à Mooca, foi ao Brás, prestou atenção em paralelepípedos e postes e quis por tudo em fotos, debaixo da pincelada, como se tivesse que ser ela, sobre o mundo dele.
Fez de seu pai uma raiz.
De repente quis voar para mais atrás. Fantasiou daguerreótipos, quase foi um deles ... Como se poupasse a raiz do pai, a alma dos primeiros imigrantes, as lembranças de sua terra.
Mas vivendo no mundo de hoje, partiu para o xerox, o acrílico, a serigrafia e o traço cortante. Na transparência a tentativa de aclarar camadas de memória e pintura.