• Narrativa presença ausência (2002-2005)
    Instalação
    Série de cinco fotos
  • Narrativa presença ausência (2002-2005)
    Maquete 3D
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Marga Puntel

Marga Puntel investiga o gênero da paisagem por meio da fotografia, que para a artista não é só um registro detalhado, mas também a possibilidade de interferência criativa. A instalação Narrativa presença ausência é composta por cinco fotos, nas quais uma mulher (a própria artista) entra em um bosque até seu vestido se confundir com as flores do local. Em 2005, participou da exposição Ocupação, no Paço das Artes, em São Paulo, e de Videolisboa #5– 5° Festival Internacional de Vídeo, em Lisboa. 

Daniela Maura Ribeiro

A pintura de paisagens aparece no período helenístico da arte grega com os pintores de murais, de acordo com o historiador Ernest Gombrich em seu livro A História da Arte.

Mas o gênero paisagem floresce no seio da arte holandesa dos séculos XVII e XVIII, período em que terá destaque também a pintura de vistas ou panoramas. Na segunda metade do século XIX, esse gênero se transforma nas mãos de impressionistas como Claude Monet, Edouard Manet e Camile Pissarro: a paisagem da pintura holandesa, bem acabada e pintada com a intenção de parecer real, cede lugar àquela sem contornos, formada por uma sucessão de pinceladas sobrepostas.

Esse gênero, consagrado pela História da Arte, atravessa séculos e chega ao terceiro milênio, subsistindo na poética dos artistas contemporâneos. Este é o caso de Marga Puntel. Marga se refere ao conceito de paisagem da pintura holandesa do século XVII. Segundo a historiadora Svetlana Alpers, no livro A Arte de Descrever, os pintores holandeses costumavam descrever a paisagem, retratando-a em cada mínimo detalhe. Muitas vezes, isso era feito com o uso da câmara escura, para projetar a vista original na tela. Mas, se, para os pintores holandeses a câmara escura (precursora da câmara fotográfica) funcionava como mediadora para a descrição das paisagens na pintura, para Marga, a fotografia é o próprio registro da paisagem e de seus detalhes. Além disso, ao contrário desses pintores, Marga não apenas descreve, como também interfere na paisagem que registra.

Em Narrativa Presença Ausência (2002-2005) — instalação que a artista apresenta no Paço das Artes — essas questões tornam-se claras. A instalação é composta por cinco fotografias, nas quais uma mulher, com um vestido florido (a própria Marga), vai adentrando por entre árvores e flores de um bosque na cidade de Curitiba.

É interessante notar a riqueza de detalhes desse bosque — as folhagens, os galhos e as flores — como também o efeito de mimese que acontece no momento em que a artista está embrenhada na mata, e seu vestido florido parece se confundir com as flores do local.

Isso não acontece por acaso. Na proposta de Marga, o ser humano não participa da paisagem da maneira habitual, isto é, como um visitante ou fruidor. Ele a adentra para ser paisagem. Logo, a intenção da artista não é registrar — pura e simplesmente — a paisagem e suas nuances ou flagrar nela os seus visitantes. Ao contrário. O interesse de Marga é o de pré conceber uma situação para determinada paisagem e encenála (ela própria ou uma terceira pessoa — a exemplo de outros trabalhos) de modo a nos causar a dúvida se a paisagem, diante da qual estamos, é real ou artificial. Sob essa perspectiva, a mimese das flores contidas no vestido com as flores reais entra como elemento fake que irá falsificar e artificializar essa paisagem. Esse conceito é tão forte na produção da artista que vem se adensando em outras propostas, como em Visita ao Parque Lage/Imersão em Verde e Vermelho (2004) e Imersão Verde (2004-2005).

Assim, a discussão em torno da paisagem no trabalho de Marga tanto se alinha às tradições da pintura holandesa do século XVII quanto dialoga com duas vertentes do gênero na arte atual: a produção fotográfica, como a alemã, na qual a paisagem é registrada de maneira puramente descritiva, e o debate que ronda a arte contemporânea global sobre as paisagens artificiais.
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