Neide Jallageas

Marília/Brasil, 1959.

  • Realidades meramente superficiais (de 19 a 25) da série Vestígios (2000)
    instalação fotos com câmeras de orifício e ampliação fotográficas em papel fibra P&B 
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Neide Jallageas

Neide Jallageas produz trabalhos experimentais na área de fotografia e vídeo desde 1996. A série Vestígios foi inspirada no conto A imitação da rosa, de Clarice Lispector. As fotografias foram feitas com câmeras de orifício (pinhole) construídas pela própria artista com embalagens de produtos de mercado. Neide possui obras em acervos de museus como Museu da Imagem e do Som, Museu de Arte de São Paulo e Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Marcelo Monzani

O ensaio fotográfico Realidades Meramente Superficiais integra a série Vestígios que a artista vem desenvolvendo desde 1998, no curso de mestrado da ECA/USP, inspirado no conto A Imitação da Rosa de Clarice Lispector. Do texto ficcional para o texto visual é feito o registro como se houvesse naquele mesmo instante um deslocamento do olhar, criando uma multiplicidade de planos e pontos de vista. As sete imagens dispostas espacialmente em semicírculo, ocupam a mesma disposição em que anteriormente estavam colocadas as sete câmeras de orifício. Câmeras que a própria artista constrói utilizando embalagens de produtos de mercado como batata frita, sabonete e band-aid. As embalagens, pintadas de preto, recebem ornamentos, nomes próprios e adquirem uma identidade. Cada câmera possui, portanto, características próprias - formato, distância focal, tamanho do orifício e ângulo - assemelhando-se ao funcionamento do olhar de cada um. Aqui, a manufatura obedece a uma lógica interna na reflexão, no processo e na resolução formal das obras: historicamente investe contra e criticamente sobre a pop art, a qual traz, dentre suas várias características, uma visão desalentada, passiva e não utópica da sociedade de consumo; no presente, investe contra os excessos cometidos pela imagem publicitária. 

Explorando as possibilidades estéticas do claro/escuro, imediatamente identificadas na tradição da pintura pelas obras de Caravaggio e Rembrandt, nasce o que é velado e o que é revelado pela artista. O que vemos são vestígios, espectros e contornos deixados pelo olhar da câmera e pela manipulação técnica da artista. Este elemento residual solicita do visitante um tempo para que a visão possa descobrir, na falta de cores e formas, as transições, mudanças e reações ocorridas de uma imagem para outra. No entanto, não se trata de um trabalho auto-referente, tendência tão comum na arte contemporânea. É, antes de tudo, uma reflexão sobre os conflitos universais da vida cotidiana - a solidão, a indiferença, as dúvidas de personalidade, a sociedade paternalista - que se traduz em amarguras, incertezas e devaneios. 
  • Realização: