• Carrinhos (2006)
    Objeto/Borracha e ferro
    (Maquete em 3D do artista)
  • Carrinhos (2006)
    Objeto/Borracha e ferro
    (Maquete em 3D do artista)
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Chico Togni

A produção de Chico Togni se caracteriza por ações concisas e contraditórias ao mesmo tempo. Para a Temporada de Projetos, apresentou carrinhos espalhados pelo espaço para serem manipulados livremente. São carrinhos que não levam nada a lugar nenhum. Em 2009, o artista participou da individual Sobre, no Paço das Artes, e da exposição Máquina, no Museu de Arte de Ribeirão Preto, entre outras. 

José Augusto Ribeiro

Não falta muito para que estas peças se convertam em veículos de mão utilitários. Nem por isso o que as orna falíveis no aspecto funcional lhes impede a plenitude física. As esculturas que compõem a mostra de Chico Togni no Paço das Artes exercem as próprias imperfeições práticas na redução icônica de suas formas, até chegar à síntese de uma roda e um guidão, de uma roda e um puxador. O objetivo – se pudermos chamar assim – é representar e sugerir, em três dimensões, uma ação ou um movimento também inútil.

Os carrinhos não levam nada a lugar nenhum. Empurrá-los implica esforço sem nenhum resultado; uma operação de negatividade que se insinua de antemão em conformações desastradas, de equilíbrio duvidoso e mobilidade restritiva. Contudo, o trabalho se apresenta irredutível, a instigar perguntas sobre a lógica que orienta os protótipos industriais dirigidos a ... nada; talvez à contraparticipação. Fazer o quê, ao vê-los espalhados pelo chão, em organizações absurdas, senão buscar respostas à perplexidade?

A produção de Chico Togni se caracteriza justamente por ações amorais a atópicas que subtraem a funcionalidade das coisas, sem, no entanto, lhes negar o imediato reconhecimento no sistema de objetos. É desse modo que o artista recobre as placas de rua que identificam nome, número e CEP das vias de um cruzamento (“Exquinas”, 2001); superpõe um adesivo às plaquetas de ônibus que ficam na lateral dos coletivos para informar o itinerário (“Ato no 3”, 2002); interrompe o acesso de uma rampa com réplicas da mureta e do corrimão que contornam a área de passagem (“Ato no 4, 2003). Tudo para deixar o usuário sem as referências usuais, fazê-lo repensar o automatismo dos gestos e cotidianos e, com isso, procurar saídas para pequenos problemas que nunca o fustigaram antes.

A motivação é, sem dúvida, um prazer antinormativo, de abolir temporariamente regras estabelecidas, a fim de pôr no lugar uma interrogação sobre o que faz de um objeto ser aquele objeto com aqueles desempenhos previstos. Daí o impulso de tornar iminentes a descaracterização das coisas e a alteração de sua ordem, de corromper suas leis, de duvidar de sua origem e destino. Por exemplo, os veículos: se colocados para andar, não demoram a ser peças de chão novamente, porque frustram; em seguida alguém lhes devolverá o papel de veículos de mão, pois, aparentemente, não falta muito para que sejam utilitários. As esculturas são, enfim, concisas e contraditórias. Podem ou não ser isso e aquilo, enquanto significam tudo a um só tempo. 
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