Adalgisa Campos

São Paulo/SP, 1971

  • Solos (2002)
    instalação com fita adesiva sobre o chão
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Adalgisa Campos

Adalgisa Campos foi aluna de Cássio Michalany, Carlos Fajardo e Sílvio Dworecki, em São Paulo, e de Monique Kissel e Yves Charnay, em Paris. Na Temporada de Projetos, exibiu a instalação Solos, uma seleção de desenhos com diversos padrões de piso, resultado da técnica com fita adesiva que aplica diretamente no chão. Os desenhos em escala real ocuparam uma área de 80 m². A artista participa de exposições no Brasil, França, Alemanha e Canadá. Em 2009, fez parte da exposição Graphias – do papel ao pixel, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

Carla Zaccagnini

Solos é uma seleção dos desenhos de pisos que Adalgisa Campos vem colecionando há três anos. No Paço das Artes, os escolhidos são aqueles que a artista pôde encaixar na área de 80 m2 que a instituição oferece aos participantes da Temporada de Projetos, mantendo a escala 1: 1 adotada em todos os seus desenhos de chão. 

Parece impossível detectar o que esses pisos têm para merecerem estar em sua seleta coleção ou imaginar o que a faz deter-se a anotar o desenho específico do chão de um lugar, com cada uma de suas medidas. Como em todas as coleções, há algo de arbitrário na escolha dos componentes. A partir dessas inclusões e exclusões, a coleção constitui um conjunto de elementos e possibilidades combinatórias, que podem ser apresentadas em diferentes conjuntos e construídas com materiais variados. No Paço das Artes, uma fita adesiva permite a aplicação dos desenhos diretamente sobre o piso real e a sua aderência a esse chão, como uma camada contígua de linhas e sentidos. 

Estes Solos transpostos parecem a representação mais isenta dos solos Ihes deram origem: desenhos lineares em escala real sobre um fundo preexistente. É interessante como estas reproduções fiéis de diferentes pisos constroem um novo ambiente real e talvez seja, em parte, porque mantêm suas dimensões reais, o um tamanho de coisa do mundo. Parece que quanto mais fiel ao chão de origem é o chão-desenho maior é a possibilidade de uma existência autônoma do segundo. Penso que o limite entre a representação e a construção de algo novo está na possibilidade de se instaurar uma relação direta e presente entre o observador e objeto que se apresenta, uma relação que independa do referente. Os desenhos de Adalgisa, executados com um material que nos permite pisá-los e construí-los sem paredes que os contenham, formam uma ilha que podemos habitar e atravessar com os olhos ou a pé. 

Assim, os Solos oscilam entre a referência imediata aos lugares de onde vêm e a lugares semelhantes já visitados por quem os vê, ou os pisa, e a composição das linhas retas sobre o plano horizontal; somam o mapeamento de lugares e suas imagens a um discurso sobre o desenho e a ocupação do espaço. Semi-isolados pela linha pontilhada que demarca o lote para jovens artistas, os desenhos ativam a trama do rejunte dos tacos, apropriando-se de toda a área do Paço como fundo. Essa nova aderência tensiona mais uma vez as relações entre estes Solos e os solos; as relações entre o desenho e o fato.
  • Realização: