André Severo

Porto Alegre/RS, 1974

  • Sem título (1998)
    materiais diversos
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André Severo

Em 1998, André Severo levou para o espaço expositivo fachadas de casas, muros, portas e portões de ferro, todos capturados em situações cotidianas. Ao descontextualizar tais objetos, o artista propunha uma nova experiência de observação do espaço urbano. Atualmente, sua produção abrange também o cinema experimental. Produziu o filme Vigília no projeto Dois vazios, criado por ele e por Marcelo Coutinho. Em 2007, participou do Programa de Residências da 7ª Bienal do Mercosul, junto à artista Maria Helena Bernardes.

Quando trabalhamos com o desenho ou a pintura de métodos tradicionais sempre chegamos ao ponto em que nos defrontamos com a possibilidade de experimentação de procedimentos novos, que se não entrarem em choque com os procedimentos anteriores, servirão para dar a estes uma nova gramática. A necessidade do abandono da superfície bidimensional e a descoberta de tais procedimentos não somente poderão levar a novas obras, dando um direcionamento diferente ao trabalho, como poderão mostrar-se, eles mesmos, como novos pontos de interesse plástico, modificando a criação e tornando o processo gerativo sempre contínuo, onde muito mais do que a consolidação da obra, o que cria interesse e motiva novos trabalhos são os problemas gerados pela tentativa de atualização das formas. 

Apropriações, construções, explorações .... na procura dessa ampliação do processo criativo que estão situados os trabalhos dessa exposição. São fachadas de casas, muros, portas e portões de ferro, capturados de situações reais cotidianas, que tiveram interrompidas suas rotinas no momento em que foram retiradas de seu local originário, para serem transformadas em obras de arte. A apropriação, neste caso, e a inscrição destes objetos em outro contexto, os transformou em proposta artística, revelando um universo em movimento, que torna íntimo o que é público ao mesmo tempo em que deixa o público ser apropriado pelo privado, em um testemunho direto da realidade que ainda permanece nestas superfícies.

Os trabalhos nasceram, talvez, do acaso, na procura da renovação de processos, e resultaram em objetos que se reestruturam a cada gesto, a cada olhar e a cada nova montagem ou inscrição da obra em um local diferente. Apropriações de fragmentos, intervenções e construções, envolvendo improvisações, acidentes e acasos, foram transformados em formas de linguagem e resultaram na instauração de uma obra aberta, e do inacabado como matéria de transformação. A justaposição de fragmentos, ao seu modo, confere aos seus trabalhos uma fisionomia verdadeira e duradoura e faz com que enxerguemos, por baixo da aparente instabilidade conquistada, os sinais de acontecimentos sucessivos que denunciam a transformação dos objetos encontrados, no intuito de materializar imagens e conceitos que nos dão conta do mundo e compartilham o impacto da apropriação e da interferência, que continuam para além do suporte tradicional, requisitando novos planos, modificando-se com o tempo.

Surpresas, desvios e retomadas. A dinâmica do processo acaba por ampliar o próprio produto, propondo ao espectador uma nova experiência plástica de observação do espaço urbano. Através do encontro de elementos públicos dentro de espaços privados os objetos oferecem uma nova visão do cotidiano, proporcionando, através de uma experiência individual, um encontro com a beleza existente em objetos manufaturados pelo homem, onde uma intervenção intencional ou aleatória sempre se faz presente e revaloriza situações, provocando uma perturbação que surge da memória de objetos e pessoas que habitaram, ou ainda habitam, formas semelhantes.

André Severo
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