Tiago Mestre

Alentejo/Portugal, 1978

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Tiago Mestre

A sua pesquisa e produção artística confrontam diferentes meios e situações de apresentação, partindo de uma elaboração sensível que se caracteriza pela consciência crítica da materialidade, do fazer, do valor simbólico e antropológico da obra. A pintura, a escultura, a instalação e o vídeo são alguns dos meios privilegiados do trabalho do artista. Estudou arquitetura, participou do Programa Independente de Estudos de Artes Visuais da MAUMAUS com Jürgen Bock, em Lisboa em 2009, e frequentou o curso Avançado em Pintura no Ar.co, em Lisboa, em 2009. Participou das residências artísticas Wiels Residency, em Bruxelas, em 2009 e Pivô Pesquisa, São Paulo, em 2016. Expôs em Portugal, no Brasil e no estrangeiro. É mestre pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).

Jacopo Crivelli Visconti



Entrevista com Tiago Mestre

Jacopo Crivelli Visconti

J.C.V.: Para começar, queria te pedir para contar rapidamente como surgiu e se desenvolveu a pesquisa que te levou à concepção da exposição que você apresenta no Paço das Artes. 

T.M.: De há um ano para cá venho me interessando por formas verticais: totens, árvores, colunas, menires, cariátides, obeliscos etc. Entretanto, cruzei-me com a referência a uma carta de 1945 endereçada por Luís Saia a Lúcio Costa, dando conta de uma dúvida relativa ao caminho a seguir para a recuperação da colunata da capela do sítio de Santo Antônio, da qual existia apenas um fragmento do capitel. Esta carta, em jeito desconcertantemente informal continha dois desenhos sumários, três possibilidades que Lúcio Costa deveria avaliar para que se escolhesse um caminho a seguir na reconstrução. Fascinou-me a ideia deste documento, desta incerteza, desta coloquialidade como pano de fundo para a construção de um conjunto de colunas / esculturas. Pensei numa sala em que estas esculturas se dispusessem de um modo irregular abrindo a possibilidade de um percurso errante que permitisse diversas leituras comparativas. 

J.C.V.: Gosto dessa sua expressão, “percurso errante”, de certa maneira alude à ideia de “obra aberta”, de Umberto Eco, que me parece que pode ser usada para se aproximar da sua prática, no sentido que, em muitos casos, ela permanece quase programaticamente num estado de indefinição que, no fundo, é o que melhor a define. 

T.M.: Concordo contigo! Procuro que o trabalho preserve uma certa disponibilidade até ao final. Essa disponibilidade, que pode ser tida como indefinição, e que começa certamente na minha relação empática inicial, é garantia de que outros sentidos possam ser assimilados em qualquer momento do processo. Esta ênfase na aparente indefinição instaurou-se, em grande medida, na exposição Secret Life of Materials, onde a questão do teste e da pergunta foi posta como mote geral da mostra. Não se trata realmente de estabelecer proposições definitivas senão, ao invés, de avançar com possibilidades, mesmo que provisórias. Acho que, em última instância, o nível de conclusão que realmente me interessa não se encontra no campo da assertividade. 

J.C.V.: Seus projetos mais recentes (La Californie, inaugurado há poucas semanas no Centro Cultural São Paulo, e agora este) reúnem uma ou mais imagens de arquivo, e são integrados não apenas por obras físicas, mas também por pequenas publicações. Queria saber se a imagens são escolhidas porque elas já se encaixam numa pesquisa em curso, ou se aparecem quase como uma epifania, detonando o processo de investigação e reflexão que se segue.

T.M.: As duas coisas acontecem no meu trabalho. Cada vez mais me têm interessado os possíveis contatos entre a obra e o mundo, e as imagens de arquivo têm cumprido muito essa função de suscitar relações, não no sentido de clarificar, mas antes de complexificar.

Em La Californie, propus um grande atlas de imagens, de parede, a que chamei de Nuvem. Nele apresento "coisas" de que gosto, simplesmente imagens de que gosto produzidas por outros. Este repertório visual abarca imagens artísticas, científicas, documentais, históricas ou absolutamente mundanas. Sempre de outros. Esta proposição inicial, ser uma coleção do que eu gosto, caiu por terra no momento em que fixei a última imagem abrindo imediatamente lugar a uma grande quantidade de relações entre imagens, algumas delas aparentemente desconexas. (...) Penso que tenho procurado tratar esta questão do documento e da publicação no mesmo nível dos diferentes meios de que me tenho servido para cada uma das exposições. Na mesma ordem de ideias, aconteceu calibrar um tom específico para a parede da galeria, tematizar a quantidade de luz artificial sobre uma obra, ativar a entrada através de uma cortina específica ou colocar carpete num lugar de onde se olha uma determinada pintura. 
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