Paulo D'Alessandro

São Paulo/SP, 1967

  • Detalhe de obra sem título (1999)
    fotografia
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Paulo D'Alessandro

Paulo D’Alessandro constrói paisagens por meio das possibilidades da fotografia, como subexposição, alteração de cores e simples recortes. Na exposição intitulada Arquiteturas subjetivas, na Temporada de Projetos, apresentou um álbum de fotos da arquitetura de um pavilhão do Carandiru, num jogo de múltipla exposição do fotograma em um mesmo filme e em diversos enquadramentos. Em 2004, o artista participou das exposições A foto dissolvida, no Sesc Pompeia, e de Em tempo sem tempo, no Paço das Artes. 

Kiki Mazzucchelli

Utilizando a fotografia como meio, Paulo D'Alessandro desenvolve um trabalho que possui ao mesmo tempo um caráter construtivo, formal, combinado à imagens ambíguas e sem nitidez. Ainda que seja possível identificarmos essas imagens como fragmentos de edifícios, ruas, enfim, um cenário urbano; elas estão longe de ser um registro documental. Parecem por um lado, admitir uma certa parcela de acaso como em seu colorido particular, que não corresponde à realidade, resultado de uma superexposição ou subexposição do negativo. O foco dessas imagens e o enquadramento tradicional dos objetos, que assegurariam pontos de referência para o espectador, são suprimidos pelo artista. Figura e fundo formam uma mesma superfície, em certos momentos beirando à abstração. 

Entretanto, o artista acrescenta ainda um outro dado que confere ao trabalho um certo rigor formal. Através de um processo de captação de imagens em que extrapola os limites da área padrão do negativo industrializado, acaba por incorporar linhas e ângulos retos em seu produto final. Trata-se, paradoxalmente, de uma operação que envolve um alto grau de risco, já que o que está sendo fotografado não aparece mais centralizado no quadro. Aí já não existe um controle total (se é que existe) sobre a imagem resultante, é preciso jogar com o acaso. Porém, durante a ampliação, é possível fazer escolhas relativas à composição, e os cortes determinados pelo artista parecem conseguir juntar duas qualidades diametralmente opostas. 

O que observamos é uma curiosa paisagem urbana que revela uma cidade difusa cujas cores em tons saturados aparecem em meio a áreas fortemente demarcadas e monocromáticas, misturando caos e geometria. As imagens de edifícios, que parecem deslocados de seus eixos de equilíbrio e de ruas desertas, cuja luminosidade e colorido confundem nosso referencial, parecem remeter a uma terra arrasada, melancólica, travando um embate com a rigidez geométrica, construtiva do fotograma. Uma combinação de elementos que lembra, em muitos aspectos, o desenho urbano da própria cidade de São Paulo, que mistura à uma forte influência da arquitetura moderna brasileira e do concretismo (movimentos calcados em ideários fundamentalmente racionais e que tanto marcaram nossa cultura visual), uma configuração orgânica derivada de um crescimento desmedido, não projetado e sem lógica. 
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