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Lais Myrrha

É graduada em artes plásticas pela Escola Guignard da UEMG (2001) e mestre pela Escola de Belas Artes da UFMG (2007). Desde 1998 participa de diversas exposições coletivas e individuais, sendo as principais: I Bolsa Pampulha (2003), Programa Trajetórias do Centro Cultural Joaquim Nabuco, Recife/PE (2005), edição 2005/2006 do programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais, Prêmio Projéteis, Rio de Janeiro (2007), e Prêmio Atos Visuais, Brasília, ambos concedidos pela Funarte. Em 2009, realizou a exposição individual Border game na galeria Millan.

José Bento Ferreira

A referência ao monumento criado por Brancusi na Romênia para os heróis da Primeira Guerra Mundial não precisa ser entendida como um ataque ao modernismo, mas como tomada de consciência sobre a impossibilidade da passagem entre a particularidade dos acontecimentos e a universalidade do sentido histórico.

O serialismo da coluna de Brancusi é uma progressão para o infinito, embora a escultura obviamente seja finita. Ela tem 30 metros de altura. Mas pretende se desdobrar no tempo, não apenas no espaço, como a memória dos soldados mortos. Seria impossível atribuir ao acontecimento esse caráter de universalidade se o artista se mantivesse fiel à geometria das esculturas cubistas. As formas geométricas que compõem o espaço cubista são necessariamente limitadas por contornos e, portanto, finitas.

A coluna de Lais Myrrha não demarca um fato histórico, mas a própria história da arte. Ela fala sobre finitude e insustentabilidade como condições necessárias. Mas, como imagem, sugere o que os românticos alemães chamaram de “sentimento do infinito”. Para a arte, não existe consciência de si sem a memória das “causas perdidas”, sem o reconhecimento dos ideais que não se realizaram, embora tenham sido celebrados ao longo de toda a história.

A recusa do monumentalismo passa pela compreensão sobre o que é um monumento, que se faz de modo claro em Pódio para ninguém (2010), um pódio de cimento seco que aos poucos desmorona. Na Coluna, a simples justaposição do material e da imagem problematiza a relação entre história e universalidade que está pressuposta nas obras de arte vistas como monumentos.

Lais Myrrha não fez um monumento para a história da arte como um todo, o que seria tão pretensioso e ingênuo quanto se crer o continuador de uma história que já foi contada. Ela fez um monumento para o seu próprio trabalho. Não para celebrar, mas para refletir, pois talvez não haja o que comemorar. Um monumento para acabar com todos os monumentos.

Apesar de descabida a crítica formulada contra as obras de arte contemporânea por serem efêmeras ou instáveis (como se a história da arte não tivesse chegado até nós aos pedaços, como escreveu André Malraux), é esse caráter efêmero da Coluna que a imagem tematiza, lembrando o espectador que, apesar das aparências, ela não vai durar e está prestes a se desmanchar no ar, como tudo o que é sólido.

Por sinal, é justamente porque está se desmanchando que ela se impõe com tanto vigor. Até mesmo a coluna de Brancusi esteve perto de seguir o mesmo caminho. Nos anos de 1950, um prefeito comunista tentou derrubá-la com um trator, por se tratar de “arte burguesa degenerada”. Os abalos ameaçaram sua estrutura até recentemente, quando foi restaurada.

A ruptura de Brancusi com o cubismo é técnica, ou prática. A ruptura de Lais Myrrha com o modernismo é cognitiva, ou intelectual. É o resultado de uma compreensão sobre a experiência histórica e a linguagem da arte, uma tentativa de superar ou suprimir uma relação ingênua entre arte e história.
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