José de Quadros

Barretos/Brasil, 1958.

  • Detalhe de Réquiem para Maria Rosa, a última dos oti-xavantes VIII (2000)
    óleo sobre linho
  • Detalhe de Maria Rosa - Versão II (1999)
    óleo sobre tela
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José de Quadros

A obra de José de Quadros questiona a exploração, a dominação cultural e a tentativa de esquecimento do passado. Requiém para Maria Rosa é composta por seis dípticos. De um lado, desenhos e pintura a óleo sobre reproduções de gravuras do livro História verídica, de Hans Staden – viajante alemão que no século 16 foi ameaçado de morte e devoração canibal por tupinambás. De outro, os retratos de Maria Rosa, da sociedade indígena oti-xavantes. Em 2008, o artista apresentou a exposição individual José De Quadros: jogos de armar, no Museu Lasar Segall, São Paulo, e participou da coletiva Arte pela Amazônia, no Pavilhão da Bienal de São Paulo.

Marcelo Monzani

Os problemas de identidade, subjetividade e diferença cultural no mundo contemporâneo são cada vez mais evidentes e atemporais. A narrativa visual apresentada por José de Quadros é mais que oportuna no momento em que "comemoramos" os 500 anos do descobrimento do Brasil. 

A arte procura caminhos e respostas para velhos questionamentos ainda não superados: a exploração, a sujeição e a dominação cultural, a religiosidade, o poder, o extermínio, a vida e a morte, que se sobrepõem articulando passado, presente e futuro. 

A série apresentada é composta de seis dípticos, intitulados Lâminas/Memórias, seis retratos e uma cabeça. Nos dípticos, de um lado, podemos ver impressas xilogravuras feitas por Theodore de Bry e anônimos realizados com base no relato de Hans Staden, viajante alemão que no século XVI esteve no Brasil, onde foi mantido em cativeiro durante oito meses pelos tupinambás, ameaçado de morte e devoração canibal. Do outro lado, os retratos de Maria Rosa, da sociedade indígena oti-xavante, que aparece alegre, triste, magoada e acusativa. Sobre todas as pinturas, há uma sobreposição de camadas de tinta branca onde estão impressas palavras que têm os radicais çoba (tupi) e toba (tupi-guarani), que significam cabeça, cara, rosto, face. Unindo as duas partes dos dípticos, temos uma pintura/radiografia da cabeça CT (formada pelas iniciais dos dois radicais), que funciona como ícone da instalação. Os seis retratos, também de Maria Rosa, foram pintados como se estivessem adornados com penas de pássaro guará, usadas durante o ritual canibal dos tupinambás. Por fim, a cabeça CT pintada sobre as escadas do cemitério de Paranapiacaba.

A opacidade pictórica apresenta vários significantes; remete à tentativa de um possível esquecimento do passado, uma vontade latente e insuportável de uma amnésia coletiva que funcionaria como uma catarse purificadora. Ao mesmo tempo nos faz parar e olhar atentamente para as representações visuais e descobrir nas sobreposições das camadas uma outra história ou índices de várias histórias possíveis. Tudo é rastro e sinalização. 
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