Márcia Beatriz Granero

São Paulo/Brasil, 1982

  • Frame do vídeo Minada, 2015
  • Minada
    (Créditos: Letícia Godoy)
  • Minada
    (Créditos: Letícia Godoy)
  • (Créditos: Letícia Godoy)
  • S/T, série Minada, 2015
  • (Créditos: Letícia Godoy)
  • (Créditos: Letícia Godoy)
  • Frame do vídeo Minada, 2015
  • Frame do vídeo Minada, 2015
  • Esqueleto, série Minada, 2015
  • Paço, série Minada, 2015
Small_arrow_left Small_arrow_right

Márcia Beatriz Granero

Márcia Beatriz Granero é graduada em Artes Visuais pela Universidade Belas Artes de São Paulo. Seu trabalho é formado por vídeos, fotografias e performances onde incorpora a personagem Jaque Jolene. Exposições individuais: Phantom (residência Phosphorus 2014), Mundum (Palacio de Pronillo, Espanha), Súbita (Centro Cultural São Paulo 2013) e Peripécias (Veredas-SP 2012). Participou com Von Suttner Salad do Project 100x100=900, com tour internacional durante o ano de 2013. Dentre os festivais de cinema e videoarte, destacam-se: Channel Video Art Festival (França), Region 0 (NY, EUA), Miden (Grécia), FIVA (Argentina), e também na Romênia, Itália, Portugal, Alemanha, Inglaterra, Sérvia, Peru, Reino Unido e Colômbia. 

Cláudia Fazzolari



Cláudia Fazzolari

Cláudia Fazzolari entrevista Márcia Beatriz e/ou Jaque Jolene

A entrevista a seguir pretende estabelecer dois níveis paralelos de interlocução: um com a criadora Márcia Beatriz e outro com a sua "criação" Jaque Jolene. Cabe recordar que Jaque Jolene é uma ficção de Márcia Beatriz, uma persona, uma aparição que surge como protagonista em recentes trabalhos da artista, seja em vídeo ou performance documentada. Desta forma, esclarecemos que algumas vezes essa entrevista será atravessada, sem cortes ou qualquer censura, pela consciência de Márcia Beatriz como também pela latência de Jaque Jolene. Como não haverá uso de recurso para impedir os fluxos de consciência ou de latência no registro da entrevista, alertamos que em momentos distintos uma das duas entrevistadas poderá interromper, silenciar ou interpelar a outra, sem restrição ou aviso prévio ao leitor.

C: Minada é uma nova incursão de Jaque Jolene pela cidade de São Paulo, uma interferência em um equipamento cultural localizado em um campus universitário. Como sabemos, Jaque Jolene já esteve em outros edifícios públicos como o Centro Cultural São Paulo e a Pinacoteca do Estado. Você poderia explicar quando Jaque Jolene conheceu o Paço das Artes? Em que circunstâncias tomou contato com os ambientes da Universidade de São Paulo?

M: Jaque nunca tinha entrado no Paço, ela conheceu o edifício no primeiro dia de filmagem. E foi nesse dia que ela já sinalizou e abriu caminho para desenrolar esse projeto. Normalmente Jaque conhece a locação somente no dia. Isso faz com que suas ações sejam mais espontâneas.

J: Eu tive um pressentimento nesse dia. Existia algo ali, eu senti.

M: A presença de Jaque é maior no início do trabalho. No processo de definição do projeto, estudo da locação e pré-roteiro. Entra em cena quando solicito, durante as filmagens.

C: Jaque Jolene é naturalmente protagonista nas criações de Márcia Beatriz, seja como um duplo encarnado, como persona autorizada ou como aparição ativada em obra. Em que circunstâncias você, Márcia Beatriz, admite cada aparição de Jaque Jolene?

M: Não tínhamos autorização oficial para entrar no Paço das Artes. Para filmar no "Esqueleto" (assim chamado pelos funcionários do Paço das Artes) e no Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan, no entanto, foi preciso conseguir autorizações de várias instâncias. Um processo que durou meses.

J: Nunca precisei de autorizações.

C: A videoinstalação Minada faz direta referência a uma aproximação com duas instituições carregadas de memória na cidade universitária: o Paço das Artes e o Instituto Butantan. De que forma os deslocamentos de Jaque Jolene são pensados para compor as investigações de Márcia Beatriz? Quem define tais deslocamentos, Márcia Beatriz ou as possibilidades de ação de Jaque Jolene?

M: A premissa do roteiro no Paço das Artes foi elaborada por mim. Depois, em algumas semanas, desenvolvi a pesquisa e pré-produção junto com Jaque Jolene. Com o projeto aprovado para a Temporada, tivemos o apoio do Paço das Artes para dar continuidade e seguir com as filmagens. Todo o trabalho envolveu muita investigação, contatos, telefonemas e reuniões para que Minada pudesse acontecer, existir como vídeo. Nesse processo, descobri o "Esqueleto", que é o encontro das duas instituições. Uma arquitetura inacabada com 3 andares de 10 mil m² cada nível, projetado no final dos anos 60 para abrigar um grande centro cultural. Durante décadas ficou abandonado, um elefante branco, um enigma localizado no bairro Butantã. Há poucos anos, o "Esqueleto" pertence ao Instituto Butantan, que ainda não tem previsão de ocupação ou utilização. As instalações do Paço das Artes ocupam hoje a área que seria apenas o hall de entrada desse empreendimento nunca finalizado.

J: Esse grande centro cultural existe como eu, na ficção. Por isso Márcia Beatriz montou esse novo vídeo no formato de um trailer. Um trailer de um filme que não existe.

C: Jaque Jolene é um eminência em trânsito em seus deslocamentos pela cidade de São Paulo. Desde sua primeira aparição autorizada, a construção desta presença e mesmo os rumos de suas próximas ações parecem ser uma preocupação constante para você, Márcia Beatriz. Como são definidos tais percursos? O que motiva cada aparição?

M: Nos primeiros vídeos, quando descobri Jaque, minha principal motivação era registrar seu cotidiano, sua relação com espaços públicos, de forma descompromissada. Depois, Jaque foi pro mundo. E agora ela me acompanha nos espaços culturais, um caminho que eu decidi.

J: Levo a sério o trabalho da artista.

M: A Jaque é minha musa. Ela traduz muito bem todas minhas ideias.

C: Existe uma zona de trânsito entre realidade e ficção que interessa bastante ao projeto de criação de narrativas que envolvem cada aparição de Jaque Jolene. Como você, Márcia Beatriz, entende seu domínio sobre esta vida alheia, sobre esta aparição que é Jaque Jolene?

M: Não tenho domínio total. Jaque tem uma personalidade forte e muitas vezes me pego pensando a partir da perspectiva dela. No Laboratório de Coleções Zoológicas, por exemplo, Jaque manipulou vários exemplares de serpentes sem a menor cerimônia. Eu tenho pavor só de pensar.

J: Fico atenta a tudo que a artista propõe, mas algumas vezes sigo as minhas vontades.

C: O que, afinal, Márcia Beatriz tem de Jaque Jolene e o Jaque Jolene assumiu da Márcia Beatriz?

M: Somos muito determinadas. Quando nossa parceria se firmou, incorporamos as qualidades uma da outra.

J: Não sou atriz, por isso tive que me acostumar com o funcionamento de set de filmagem. Aprendi muita coisa com Márcia Beatriz e hoje entendo seus objetivos. Foi um trabalho intenso, pois somos muito exigentes.

M: Jaque Jolene é uma mulher virtuosa. Ela conquistou seu papel dentro do meu trabalho e admiro essa sua entrega e dedicação.
  • Realização: