Marcelo Moscheta

São José do Rio Preto/SP, 1976

  • Still (2007), desenho díptico de Marcelo Moscheta
    120x240 cm cada
  • Vista da instalação Still (2007), de Marcelo Moscheta
    50 caixas de alumínio, borracha, fios elétricos, lâmpadas, led e dispositivos
    150x450 cm
  • Detalhe da instalação Still (2007), de Marcelo Moscheta
    50 caixas de alumínio, borracha, fios elétricos, lâmpadas, led e dispositivos
    150x450 cm
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Marcelo Moscheta

Formado em Artes Plásticas pela Unicamp em 1999, vive e trabalha em Campinas (SP). Possui mestrado em Artes Visuais sob orientação de Luise Weiss, também pela Unicamp. Em 2011, foi convidado pela 8ª Bienal do Mercosul para desenvolver uma pesquisa relacionada à geopoética. Nesse mesmo ano, também realizou expedição/residência artística no Polo Norte. Possui obras nas coleções Gilberto Chateaubriand (MAM-RJ), Lhoist Foundation ( Bélgica), RNA Foundation (Moscou), Itaú Cultural, The Deutsche Bank, MAC Campinas, MAM Bahia, MAC Goiânia, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Pinacoteca Municipal de São Paulo (CCSP), MAMAC Liège e MASC (Florianópolis).

Daniela Castro

É no caráter experimental do tempo – nas obras, na construção da memória – em que se baseiam os registros da paisagem em STIIL, exposição de Marcelo Moscheta para o Paço das Artes. Há um trajeto a ser percorrido em cada obra, mas sua duração baseia-se no instante distendido da contemplação e formação do pensamento evocado pelas imagens. Elas exigem um olhar alongado que se forma nos interstícios, fora do alcance dos olhos comuns que só conseguem enxergar a aparência, o que está na superfície das coisas.

Em Still, um díptico de larga escala (120 x 240 cm, cada), imagens de nuvens a deriva no céu envolvem o visitante. O que inicialmente se parece com o negativo ampliado de uma fotografia se revela na fragilidade da técnica como algo impermanente: a imagem é efêmera. Trata-se de um desenho em grafite sobre PVC (policloreto de vinila). A ação do tempo e do ambiente desfaz a imagem na medida em que o pó do grafite se esvaece. A idéia de transitoriedade – trânsito das nuvens, e da passagem entre diferentes estados de matéria quando do seu desaparecimento – se aplica também a própria técnica. Porém, acrescida à paisagem há uma marcação numérica, o time-code típico de imagens de vídeo. Esse artifício causa uma tensão entre o instantâneo e o impermanente, e coloca o espectador nesse espaço do meio, que se situa no congelamento do instante onde o tempo não se cristaliza, mas infla; entre a construção da memória de paisagem, no momento em que se imprime no cérebro a imagem, e sua inevitável destruição ou fragmentação em seu possível esquecimento.

A instalação RGB conta com vários mini-backlights construídos pelo artista, contendo imagens fotográficas de paisagens com predominância das cores vermelhas, verdes e azuis (red / green / blue) formando um desenho orgânico em sua totalidade. O deslocamento dos olhos entre um fragmento e outro determina a construção da paisagem experimental, nela mesma mutável, uma vez que, em um segundo olhar, adotando um novo percurso, o todo da paisagem se torna outro. Pois são seus detalhes, ou a escolha de novos percursos ou ângulos de abordagem dos fragmentos que determinam a composição de novas memórias de paisagem. Esse exercício subjetivo de criação mnemônica remete, sobretudo, ao fato de que a memória habita um domínio em ruínas mas em constante estado de construção.

Moscheta trabalha o caráter experimental do tempo a partir da discussão sobre seu aspecto monumental. Os filmes de Michael Snow, por exemplo, são discutidos nesses termos. Com um movimento de câmera de 360º, La Region Centrale (1970) apresenta a paisagem gelada do norte de Québec em três horas e meia, e Wavelength (1967) é um plano seqüência em zoom de um único frame, que dura 45 minutos. O artista canadense explica que a intenção foi a de representar o peso do tempo, sua monumentalidade, na medida em que ele acreditava ser a duração ideal para que a imagem atingisse a consciência do espectador.

A duração do processo de despertar a consciência é parte essencial do conceito nos filmes de Snow, e a técnica cinematográfica permite diferentes experimentações em suas formas de apresentação. A força da experimentação com a monumentalidade do tempo na obra de Moscheta está na duração distendida da contemplação dentro do instante em que se apresenta a imagem fixa. Em Branco Gelo, a imagem de um iceberg em grafite sobre PVC expandido é montado em uma caixa de acrílico, tendo na própria moldura a transparência característica do gelo. O iceberg, em constante movimento no seu derretimento e a deriva no oceano, é fixado por aquilo que remete à sua própria matéria. À imagem é dada um caráter icônico. Cuidadosamente elaborada e apresentada, sua fixação remete à reflexão dicotômica sobre a impermanência de qualquer estado natural em contrapartida ao esforço humano de assegurar o estável, o duradouro, o eterno. Na obra de Marcelo Moscheta, vê-se a imagem com o olhar alongado, com o estado contemplativo da mente.

Marcelo Moscheta foi artista convidado para a Temporada de Projetos 2007
  • Realização: