Marcos Chaves

Rio de Janeiro/RJ, 1961

  • Sem título (2000)
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  • Detalhe de Sem título (2000)
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  • Sem título (2000)
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Marcos Chaves

A obra de Marcos Chaves é permeada por humor e interferências irônicas. Na Temporada de Projetos, apresentou uma série de fotos que registram sua intervenção nas estátuas do Castelinho do Flamengo, no Rio de Janeiro. As estátuas, que fazem referência à Grécia antiga, foram maquiadas e adornadas com cílios postiços e outros adereços. O artista apresentou a exposição individual Frequências, no Museu da Imagem e do Som, em 2009, e, em 2010, participou da coletiva The tropics – view from the middle of the globe, no The Jim Thompson Art Center, em Bangcoc, entre outras. 

Carla Zaccagnini

Eclético: do grego eklekticós, de eklégein, escolher. Na exposição em que Marcos Chaves realizou as intervenções que deram origem às presentes fotografias, o título “Eclético” era uma alusão à arquitetura do Castelinho do Flamengo, um exemplo típico das construções da virada do século. Esse termo grego, entretanto, oferece um importante acesso à obra de Chaves, uma vez que o centro de sua produção reside, justamente, na operação básica da escolha e nas implicações desse ato.

As associações de objetos industriais e frases feitas, de refugos e palavras, pressupõem sempre um olhar atento, que filtra, seleciona, exclui e elege significantes dentre a totalidade dos assuntos que se nos apresentam diariamente. Na intervenção realizada no Castelinho, Chaves destaca as representações antropomórficas em meio a tantos outros elementos decorativos. Seu olhar seletivo individualiza esses ornamentos e lhes atribui significado aplicando toques de maquiagem que transformam a superfície desses rostos, ressaltando suas particularidades e modificando suas expressões. Esta maquiagem, entretanto, não está a serviço da estética. Mais uma vez, como em toda a produção de Marcos Chaves, a intervenção do artista sobre os objetos escolhidos vai de encontro aos sentidos que entrevê ou antevê como potencialidades desses objetos.

A maquiagem, geralmente utilizada para embelezar as feições humanas ou caracterizar personagens, representa também um artifício para corrigir imperfeições ou minimizar os efeitos da idade e do tempo. Na intervenção de Chaves, bem como nas fotografias decorrentes, soma-se a esses significados uma alusão à pintura das esculturas clássicas, em que a coloração do mármore servia para acentuar as características miméticas das figuras. Confrontando os relevos moldados às imagens clássicas, o artista estabelece uma linhagem e indica diferenças. Além de remeter-nos à Grécia antiga, a maquiagem e o uso de cílios postiços, lágrimas de cristal e outros adereços que aludem à artificialidade da beleza ou ao disfarce, aproximam essas faces aos rostos vistos hoje na televisão, no cinema, ou nos desfiles de carnaval. 

Ao transformar o registro fotográfico dessa intervenção em nova obra, Chaves reafirma a característica bidimensional do relevo e a reprodutibilidade dessas figuras moldadas, em contraposição às esculturas de que são diluições. Ao mesmo tempo, o artista transpõe os detalhes selecionados por seu olhar em meio à riqueza ornamental da construção eclética, para o espaço de galerias contemporâneas, em que se busca um espaço de mínima interferência. Essa atitude reforça a operação de recorte que está no cerne da construção de sua obra. 

Escolher (eklégein) consiste em eleger e excluir, e é possível que a dificuldade da escolha resida, principalmente, no ato da exclusão. Nas fotografias, a exclusão é o foco. Chaves elegeu as imagens sobre as quais ia trabalhar quando de sua intervenção no Castelinho, e as suas interferências apontaram essa seleção. Agora, ao enquadrar e ampliar esses detalhes, é a exclusão o que está mais presente, com as imagens deslocadas do seu contexto como ready-mades e aliviadas de todos os outros ornamentos que as acompanhavam. 
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