Caetano Dias

Feira de Santana/BA, 1959

  • Detalhe de Sobre a Virgem (2002)
    instalação
  • Detalhe de Sobre a Virgem (2002)
    instalação
  • Sobre a Virgem (2002)
    instalação
  • Detalhe de Sobre a Virgem (2002)
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Caetano Dias

Caetano Dias transita por suportes e linguagens diversos, sendo a ambiguidade uma questão recorrente em sua produção. Na Temporada de Projetos, o artista apresentou uma instalação composta por diversas imagens religiosas em resina, perfuradas e iluminadas internamente. No Paço das Artes, participou das exposições Ocupação, em 2005, e Por um fio, em 2007. Integrou a 3ª Bienal do Mercosul, em 2001, e o Panorama de Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2005.

Guy Amado

O processo criativo de Caetano Dias é pautado por uma regularidade e coerência perceptível em toda sua obra, fundado na noção da desconstrução. E essa noção, aqui, pode ser entendida como decompor ou destruir o objeto/imagem para identificar e repotencializar sua multiplicidade de significados, desfazendo os dogmas pré-estabelecidos pela ideologia ou pela convenção. Esta orientação se evidencia desde a produção pictórica do artista – ‘forja’ para seu pensamento em arte - à sua diversificada produção posterior, como nas séries elaboradas a partir de imagens eróticas capturadas na Internet que, retiradas daquele circuito e ‘corrigidas’ digitalmente, comentavam questões em torno da (não)ética no trânsito da sexualidade e do desejo no limbo virtual da web, abrangendo, por extensão, aspectos do âmbito das relações humanas como a solidão, a incomunicabilidade, o fetiche e o voyeurismo.

O processo de formação do repertório do artista, estruturado num método colecionista de imagens, memórias e ideias, é marcado pela hibridização, congregando religiosidade e desejo, comportamento, identidade e cultura popular, a matéria e a virtualidade; a ambiguidade é a tônica. Na instalação - inédita - aqui apresentada, Caetano retoma uma iconografia que lhe é familiar, a do sacro popular. Diversas imagens religiosas arquetípicas em resina e iluminadas internamente - do tipo que se encontra no comércio - são perfuradas à exaustão, desfigurando-se; a luz, descontrolada, então vaza pela constelação de orifícios, ganhando o espaço com efeito quase cenográfico, sombras espalhando-se e contaminando o ambiente. A corporeidade das imagens é agora comprometida, a matéria tornada luz. A sensualização contida, necessariamente vinculada ao ícone religioso, é transmutada em um campo de tensão onde ocorre um tipo de ‘experiência de divinização’ inesperada e arrebatadora, gerada paradoxalmente pela violenta ação física sobre a estatuária. O dado original de sedução funcional da peça é repotencializado pelo ato da destruição - desintegração.

A vivência do artista na pintura – e as lições desconstrutivas ali assimiladas – permanece como impulso seminal para o artista, que no entanto rejeita a postura de pintor stricto sensu. De fato, os suportes e linguagens, diversos em sua trajetória, não se esgotam nem são definitivos; apenas emergem de acordo com a melhor adequação para viabilização dessa ou daquela proposta. Assim, Caetano transita livremente da pintura e escultura à instalação multimídia, passando pela fotografia digital e recentes incursões no vídeo. O que importa, ao final das contas, é a clareza da dimensão processual acima de tudo, revelando o significado como fragmentado e ambivalente.
  • Realização: