Mila Milene Chiovatto

São Paulo/Brasil, 1965.

  • Detalhe de obra sem título da série Acúmulos (1999)
    plotagem ampliada em photogloss
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Mila Milene Chiovatto

Graduada em educação em artes pela Faculdade de Comunicações da Universidade Mackenzie, Mestre em Ciências da Comunicação – Sociologia da Arte pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Professora de História da Arte na Faculdade de Comunicação da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP); lecionou Estética, Teoria e Crítica de Arte Contemporânea no Curso de Especialização em Produção de Arte da Universidade de Belas Artes e Estética no Curso de Especialização em História da Arte da Universidade São Judas. Participou da equipe do Núcleo Educação e coordenou os atendimentos educativos da XXIV Bienal de São Paulo; coordenou as ações educativas das exposições De Picasso a Barceló, em 2001 e Artecidadezonaleste em 2002. Autora do projeto educativo da exposição Vistas do Brasil da Coleção Brasiliana – Fundação Estudar. Membro do CECA-ICOM (Comitê de Educação e Ações Culturais do Conselho Internacional de Museus). Consultora em projetos educativos em arte e autora de materiais de apoio à prática pedagógica em artes, atualmente é Conselheira do Instituto Arte na Escola e Coordenadora do Núcleo de Ação Educativa da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Guy Amado

A poética de Mila Chiovatto parece ter sido sempre balizada pela ideia de destruição. E por destruição, para a artista, podem ser compreendidas intervenções em graus diversos: seja na interferência devastadora gerada pela ação da intempérie sobre objetos e imagens fotográficas como no gesto contido que retoca imagens sacras e de reminiscências familiares; ou ainda nos imprevisíveis efeitos que obtém através do uso de fogo sobre objetos, pinturas e imagens, em composições onde explora as possibilidades de ação combinada do fator aleatório e de uma intencional idade que reafirma a nova significação às peças agora investidas. 

Desde sempre atraída pela iconografia do sacro popular e a profusão de imagens e objetuária dele advinda, sua produção emerge explorando as possibilidades de subversão neste universo. A partir de intervenções e combinações bem-humoradas (que chamo aqui holy assemblage), constrói, recorrendo ao ready-made, como que um peculiar santuário alternativo, que atesta uma visão pessoal a um só tempo fascinada por e questionadora dos aspectos religiosos e suas idiossincrasias. 

Na série Acúmulos, que apresenta no Paço, Mila rompe com o repertório sacro recorrente em sua produção, passando a adotar o referencial imagético da história da arte como matriz de seu processo. Trabalhando sobre slides, realiza instigantes composições a partir de um procedimental relativamente simples - sobreposição combinada de transparências e posterior ampliação da imagem por plotter - num processo que virtualmente inviabiliza, ou antes subverte, a possibilidade de leitura da imagem base como ícone a priori. Na série aqui exposta, o célebre Laoconte e seus Filhos emerge, remoto, em meio ao novo campo de tensões gerado pela intervenção; ao dado agora vagamente familiar da imagem, soma- se a sensação de estranhamento reforçada pela organicidade extrema que ganha a composição - aspectos que inclusive aproximam a obra de uma leitura pelo viés da abjeção, tendência contemporânea que introduz novas possibilidades de análise estética a partir de conceitos da psicanálise. 

Ao propor um novo enfoque perceptivo pelas estratégias que adota em Acúmulos - "a destruição pelo acúmulo" -, a artista segue em suas investigações processuais, em que o dado residual encerra as marcas da des-ação a que foi submetida a obra, na mesma medida que inaugura novos significados. Pintando, queimando, enterrando e desenterrando, fotografando e desfotoqrafando, acumulando, Mila repotencializa as possibilidades estéticas latentes de suas peças.
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