Nino Rezende

Brazópolis/MG, 1962

  • Sem título, série Tatuagens (2001)
    Laser Print montada em AluDibond
  • Sem título, série Tatuagens (2001)
    Laser Print montada em AluDibond
  • Sem título, série Tatuagens (2001)
    Laser Print montada em AluDibond
Small_arrow_left Small_arrow_right

Nino Rezende

O fotógrafo Nino Rezende tem seu foco em questões da sociedade como costumes e crenças. Na série Tatuagens, por exemplo, mostra um grupo de pessoas identificadas por suas marcas cravadas na pele. A outra série apresentada, Fade-out, é composta por fotos em diferentes tonalidades de branco, de pessoas anônimas nas ruas. Em 2003, o artista participou da exposição A sensualidade da cor – 4 fotógrafos brasileiros na Coleção Joaquim Paiva, no Conjunto Cultural da Caixa, em Brasília, e, em 2000, de Impressionen, no Instituto Cultural Brasileiro, em Berlim.

Daniela Maura Ribeiro

Grandes temas centrais da arte e da vida humana: a ideia da transgressão da ordem – a saudade do paraíso perdido – a volta à unidade (Murilo Mendes). A volta à unidade por meio da busca da identidade. Nino Rezende discute a questão da identidade em suas séries fotográficas desde 1998, quando realizou a série Abschied (Despedida). Traduz suas inquietações ao registrar cenas do cotidiano dos jovens e dos movimentos urbanos em Berlim (onde vive) tais como o Gay Pride e Love Parade, utilizando a técnica da falsa solarização e banho de gelatina para obter como resultado imagens monocromáticas em cores fortes como o vermelho, azul, amarelo e verde que conferem um caráter fantasmagórico ao retrato. 

No projeto Fade-out que Nino apresenta no Paço das Artes, pessoas anônimas são fotografadas nas ruas, uma após a outra num espaço de tempo bastante curto, onde a imagem de um passante é imediatamente substituída pela do próximo e assim por diante.

A esse fator agrega-se o processo de revelação da imagem, que recebe um tratamento específico para remover os tons de cinza e negro restando somente tonalidades de branco. Nesse sentido, Nino mantém a monocromia de séries anteriores, agora com o uso do branco, assim como o caráter fantasmático da imagem. A diferença está nos vestígios que o branco sobre branco proporciona: tornam-se visíveis fragmentos do retrato, como um sorriso, olhar, um detalhe da roupa, instigando o espectador a buscar o momento em que a imagem ressurge em sua totalidade. Além de Fade-out o artista apresenta também a série Tatuagens, onde partes do corpo tatuadas aparecem relacionadas com situações de aprisionamento e dor.

Fade-out denota um caráter espiritual e cria uma situação paradoxal na qual as pessoas retratadas aparentemente deixam de existir ao mesmo tempo em que são reais. O que se revela, na verdade, por meio dos vestígios/fragmentos, é a essência dos anônimos no momento em que foram retratados. O que sentiam? O que podemos resgatar desses momentos observando o branco sobre branco? O que restou? Quando surge e deixa de surgir? Tatuagens são também fragmentos, mas de outra natureza: a figura humana é cortada, e a pele tatuada torna-se ela própria um detalhe. Aqui, não o vestígio, mas o desenho sobre o corpo - enquanto cicatriz/marca - somado a elementos que interagem com esse momento, como a agulha (causadora da cicatriz), é que atrai o espectador. 

O questionamento sobre a identidade é dado nos dois momentos: em Fade-out, o fato de aparecer e desaparecer pode revelar ou esconder, perguntar ou responder, ser ou não ser. Já em Tatuagens traz um determinado grupo de pessoas que são identificadas por suas tatuagens. Aqui e lá é irrefutável a posição do indivíduo perante a sociedade na qual está inserido, com quais costumes, situações e crenças. 

Como diz o poeta romantista gaúcho José Joaquim de Campos Leão, o Qorpo Santo, "Sempre os costumes – estão arraigados!" E são esses costumes, por assim dizer, que compõem o indivíduo, onde quer que ele esteja e que o fazem carregar toda a carga cultural que pode vir à tona ou dissolver como num Fade-out.
  • Realização: