Gabriel Pessoto

Jundiaí, SP, 1993

Small_arrow_left Small_arrow_right

Gabriel Pessoto

Gabriel Pessoto é graduado em produção audiovisual (PUCRS) e pesquisa o trânsito de imagens entre mídias digitais e analógicas, do têxtil ao GIF, observando como visualidades cotidianas incidem sobre intimidades e sobre a construção de desejos e memórias. Desde 2015, apresenta seu trabalho em espaços independentes e institucionais, salões e mostras de vídeo. Destacam-se as exposições Glória (Galeria Lunara, Porto Alegre, RS, 2015), indicada ao Prêmio Açorianos na categoria Novas mídias, e as individuais Um pouco por dia já é muito (Casa da Luz, São Paulo, SP, 2018) e Ambiente moderno (Galeria da Fundação Ecarta, Porto Alegre, RS, 2021). Em 2022, lançou a publicação Ambiente moderno pela Cactus Editora.

A pandemia acirrou as marcas deixadas em nossa sensibilidade no que diz respeito à relação com a imagem, as redes sociais e as telas luminosas planificadas. Realidade virtual, de Gabriel Pessoto, oferece uma experiência doméstica transmutada em um encontro com vultos pixelizados bidimensionais. Ao mesmo tempo em que imagens digitais pixelizadas servem de referência para a criação de padrões para o bordado (técnica totalmente manual em lã), receitas de trabalhos manuais servem de partitura para a manipulação de imagens em vídeo.

O ambiente é doméstico, disso não há dúvidas. No entanto, resta pouco ou nenhum conforto. Estão ali paninhos, bordados em lã, colcha e travesseiros, tudo o que compõe o repertório de caprichos com as superfícies da casa. Se somos capazes de reconhecer tais objetos, eles também figuram como ecos distantes e pixelizados de seus itens originais, desprovidos de suas funções; são meras representações projetuais. Na presente Temporada de Projetos, Gabriel Pessoto transformou uma sala do Paço das Artes numa quitinete similar a diferentes recursos de simulação virtual – da maquete de arquitetura à brincadeira de casinha, do The Sims ao clássico SketchUp. A instalação propõe negociações delicadas entre imagem e poder, público e privado, desejo e corpo, casa e subversão, sobretudo através da coexistência de mídias de naturezas distintas e conflituosas: o bordado artesanal e a imagem digital.

Para além do vínculo explícito com as técnicas artesanais, interessa ao artista o modo como o bordado se aproxima da visualidade pixelizada de imagens digitais precárias, de baixa resolução. Ambos põem-se de pé a partir de um aglutinamento de códigos organizados sobre uma superfície; organizam-se a partir de uma gramática específica, orientada por receitas e partituras mais ou menos autonomizadas. Na condição de um todo constituído por várias partes, chamam atenção para uma certa arquitetura da imagem, dando a ver sua condição ficcional estruturante. No bordado e no pixel, vemos não só algo representado, mas também a presença de uma técnica que não quer se esconder, exibindo a nós os percursos de construção da imagem e flertando com os limites entre figuração e abstração.

  • Realização: