Laura Belém

Belo Horizonte (MG)/Brasil, 1974

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Laura Belém

Formou-se bacharel em artes pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, 1996) e mestre em artes plásticas pelo Central Saint Martins College of Art, Londres (2000). Desde 1998, vem participando de exposições no Brasil e no exterior. Dentre as exposições já realizadas destacam-se a individual na Galeria Luisa Strina (2011), e as Bienais de Liverpool (2010) e de Veneza (2005). Laura recebeu o Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas 2011-12 e foi contemplada na 1ª e na 2ª Edição do Prêmio Mostras de artistas no exterior / Programa Brasil Arte Contemporânea da Fundação Bienal de São Paulo e do Ministério da Cultura.

Carla Zaccagnini

Parece que todas as coisas do mundo, construídas ou não pelo homem, suportam mais significados do que aqueles que as definem e mais funções do que aquelas que desempenham sem nenhum esforço. E cabe, agora sim, sempre ao homem, a tarefa de encontrar essas outras verdades latentes. Talvez o homem seja antes um observador, um detector de pulsões e potências, do que um inventor. Ou talvez o invento não esteja em lascar ou polir uma pedra até chamá-Ia roda, mas em notar como uma pedra, já redonda de tão gasta pelo tempo e pela água, roda mais rápido que um paralelepípedo desliza pela mesma encosta. Talvez sejam seus olhos, e os nervos que a partir deles atingem o cérebro, o que distancia o homem dos outros animais, e não o polegar opositor, como se pensa.

Assim é também na arte, na dança, na literatura ou no teatro. Trata-se, antes, de notar como os gestos e movimentos se constroem e projetam, como as causas determinam os efeitos e as narrativas se formam e se contam, como as pessoas e as coisas se portam durante o dia e à noite. Pode ser o resultado de um treino, essa capacidade de encontrar nas coisas possibilidades diversas às suas primeiras vocações e surpreender-se com o funcionamento habitual de todos os órgãos e engrenagens. Mas muitas vezes é preciso um olhar estrangeiro, um olhar à procura de diferenças e diferenciais, para perceber e destacar uma ou outra coisa de um contexto que, quando distraídos pela repetição dos hábitos, nos parece uniforme. Um olhar estrangeiro como o que conseguimos carregar quando viajamos e paramos a fotografar guindastes, hidrantes, gatos e as texturas das calçadas. Ou quando recebemos alguém de outra língua que repara e nos faz reparar no tamanho dos outdoors, no movimento insistente de infláveis publicitários, nas cores predominantes entre nossos cães vira-latas.

Muitas vezes um gesto simples e direto de colagem, a escolha e a ação de extrair e recontextualizar algo já existente, tem força suficiente para transferir a outros essa surpresa, esse olhar vagaroso e atento para a parcela de realidade escolhida. E isto não só enquanto esses elementos se mostram isolados, mas também depois, quando nos deparamos com ele de novo, nos percursos e encontros cotidianos. Mais ainda - e isto sim, é importante -, o gesto que seleciona e destaca serve para nos fazer notar, justamente, a gravidade e a importância dessa ressignificação da realidade, que nossos olhos e nervos são capazes de operar sempre que Ihes damos tempo.
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