José Vilmar

Patos de Minas/MG, 1972

  • Detalhe de Retratos falados (2000)
    pigmentos sobre jornal
  • Retratos falados (2000)
    pigmentos sobre jornal
Small_arrow_left Small_arrow_right

José Vilmar

José Vilmar transita pela pintura, desenho, gravura, vídeo e instalação. A obra Retratos falados, apresentada na Temporada de Projetos,é um memorial poético descritivo originário de seu ofício de desenhista criminal, que exerce nas delegacias de polícia da região mineira de sua cidade natal. Em 2003, participou do 3º Panorama de Artes Plásticas de Uberaba. Participou do Festival Internacional de Videoarte ZONA 9, em 2007, no Chile. Possui obras no acervo da biblioteca de Clermont-Ferrand, na França.

Marcelo Monzani

A instalação Retratos Falados é constituída de uma série de desenhos originários do trabalho que José Vilmar vem realizando, há mais de dez anos, nas delegacias de polícia da região mineira de Patos de Minas, como desenhista criminal. É nesse ambiente que as vítimas relatam os dados necessários para a confecção dos retratos de seus agressores anônimos. José Vilmar guarda em sua memória os rostos, as expressões, os gestos, os sentimentos e as emoções que afloram dos depoimentos para, em seguida, realizar uma dupla tarefa: recodificar os dados obtidos, fazendo quase uma análise psicológica dos estados emocionais das vítimas, e elaborar, criticamente, suas impressões dos fatos ocorridos.

O jornal é o suporte escolhido para a execução de sua obra, coincidentemente ou não; é nele que notícias de todas as naturezas, sociais, políticas, econômicas, culturais e policiais, são veiculadas e nos dá diariamente uma sinopse do que acontece na sociedade. Há portanto, uma conjugação entre os meios: o artista escolhe aleatoriamente páginas de jornais e realiza sua intervenção, aplicando uma camada de tinta, deixando transparecer, na velatura, parte das letras e imagens que compõem as notícias, e realiza o desenho. Colados diretamente nas paredes, após o término da exposição, são arrancados um a um; alguns são danificados, e o artista pacientemente refaz o novo retrato. Preocupação com a conservação da obra? Não, tudo se renova, retratado e artista nunca mais serão os mesmos, haverá sempre um novo rosto a ser observado, um incidente e uma nova notícia, repetindo-se ciclicamente.

Diferentemente do retrato do criminoso, no qual a figura representada procura ser realista, em sua obra José Vilmar busca um contraponto, a figura impregna-se das referências subjetivas e abstratizantes decorrentes da efemeridade dos atos e reações. Com traços rígidos, brutos, quase ingênuos, compõe um grande mosaico de figuras humanas, formas, gestos e olhares, que, agrupados entre paredes, vítimas e criminosos, se confundem e passam a fazer parte de uma mesma história.
  • Realização: