Camille Kachani

São Paulo/SP. 1966

  • Vista da exposição Golem (2007); pelúcia s/ lona (Foto: Divulgação)
  • Vista da exposição Golem (2007); pelúcia s/ lona (Foto: Divulgação)
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Camille Kachani

Desenvolve seus trabalhos em São Paulo. Suas principais exposições individuais foram Galeria Anna Maria Niemeyer, RJ, 2007 ; FUNARTE, São Paulo, SP, 2007 ; Galeria Murilo Castro, Belo Horizonte, 2005 ; Espaço FURNAS Cultural, Rio de Janeiro, 2005 ; MAC/PR - Museu de Arte Contemporânea de Curitiba, 2004 . E participou de exposições coletivas como Arte-BA – Galeria Thomas Cohn, Buenos Aires, Argentina, 2007; XIV BIENNALE INTERNATIONALE DE L’ IMAGE, Nancy, França, 2006; ÁGUA CORRENTE, Centro Cultural São Paulo, 2006; VII Salón de Arte Digital de Habana, Cuba, 2005; I Salão Aberto - Paralelo a XXVI Bienal Internacional de São Paulo, 2004; MoLAA – Museum of Latin American Art, Los Angeles, 2004; NOHO Gallery, Soho, New York, 2001.

Daniela Castro

Bataille sempre mostrou um profundo desgosto pela hipocrisia da exclusão e pelos mecanismos de apagamento e rejeição do olhar. Para o filósofo francês, a força centrípeta da sociedade não é a de atração, mas a de repulsão, na medida em que se repugnam as sobras e restos da cultura do excesso, relegando seu lixo à invisibilidade e assim purificando-a, mantendo seu funcionamento numa lógica do que ele chama de abjeção social.

Na elaboração de Kristeva, cinco décadas mais tarde, abjeção é um estado de crise. Não é tão somente a repulsão física, mas aquilo que por definição perturba identidades, sistemas e ordens. É algo que, numa espécie de fronteira, simultaneamente fascina e repele, incomoda e alivia; “abjeção é sobretudo ambiguidade” .

A exposição intitulada Invisíveis de Camille Kachani para o Paço das Artes reside nessa fronteira. O artista não apenas se apropria de imagens de dejetos e resíduos da cultura do excesso como também os reorganiza num processo de sedução e desejo. Objetos bidimensionais em tamanho natural são meticulosamente confeccionados e apresentados em pelúcia e emborrachados: caçambas de lixo imundas, engradados de cerveja empilhados e sujos, uma Kombi de ferro-velho seduzem-nos pelo seu valor estético – não da ordem do grotesco, mas do estranhamente belo.

Contrariamente a outros artistas que trabalham com a lógica do abjeto mais diretamente, tais como Cindy Sherman (Disgust pictures series,1987, e Sex pictures series, 1992), Gilbert & Georges (Naked shit pictures, 1995), e o próprio Kachani (Auto-retrato em processo, uma instalação inédita que contém mostras de todos os tipos de dejetos orgânicos do corpo do artista coletadas diariamente e expostas em tubos de ensaio), as obras da série Invisíveis passam pelo abjeto e criam atração pela repulsão; é o intocável que se faz querer sentir e acariciar.

Cria-se na relação entre obra e espectador uma operação de transgressão de valores e ressignificação dos sentidos, uma vez que se revela a precária parcialidade do exercício do olhar, dependente, aqui, do complemento do toque para que a obra seja apreendida integralmente. Ainda, a obra de Camille Kachani suspende mecanismos habituais de racionalização dos espaços sociais em processo de homogeneização num contexto de uma cultura tecnocrata e globalizante. São obras que indagam o subconsciente e apelam à nossa consciência.
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