Fábio Tremonte

São Paulo/SP, 1975

  • Sem título (2005)
  • Sem título (2004)
  • Sem título (2004)
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Fábio Tremonte

A produção artística de Fábio Tremonte se dá por meio de questões do cotidiano como deslocamento geográfico e as relações estabelecidas entre os lugares percorridos e o seu entorno. Os desenhos e monotipias apresentados na Temporada de Projetos fazem parte de seu universo criado pelas palavras. O artista participou do projeto Ocupação, no Paço das Artes, em 2005, e fez as individuais Nada Mais, no Ateliê 397, em 2009, e Ilhas, no Museu de Arte de Ribeirão Preto, em 2010. Sua obra integra o acervo Madeira Corporation, na Ilha da Madeira.

Daniela Maura Ribeiro

Uma parede totalmente pintada de azul (céu), seguida de outra, repleta de pequenos textos escritos sobre sua superfície branca e de outra azul (mar). As demais paredes contínuas trazem monotipias, desenhos e mais monotipias. Essa é a visão que o espectador tem, à primeira vista, da exposição "Paisagem # 4", do paulistano Fábio Tremonte, no Paço das Artes. 

A ideia de horizonte, dada, especialmente, às grandes áreas azuis, parece ser uma pista sobre esse trabalho de Tremonte. A qual horizonte o artista se refere?

Ao ler os pequenos textos entre essas áreas iremos nos deparar com o seu pensamento em situações que se inter-relacionam: citações ao universo da arte (Yves Klein, Allan Kaprow, Marina Abramovic, Joseph Beuys e Mareei Duchamp), ao cotidiano do artista (" não tive uma semana fácil "), a situações imaginárias ("sinto saudades das asas") ou, simplesmente, a constatações ("pássaros não voam em dia de chuva") e dúvidas ("como faço para desenhar hélices"?).

É claro que nada está escrito ali por acaso. Fábio faz da parede do espaço expositivo o seu diário e relata suas inquietações, que se localizam no horizonte delimitado entre o céu e o mar.

Por exemplo, quando Tremonte reporta-se ao mundo da arte, ele deixa escapar algumas de suas  referências, o que nos possibilita traçar paralelos. 

Do artista francês Yves Klein, morto de ataque cardíaco aos 34 anos ("Yves Klein morreu cedo demais", lê-se na instalação), podemos supor que Tremonte compartilhe a eleição do azul como elemento artístico: a partir dos anos 1950, Yves Klein passa a produzir obras em azul (o tom por ele utilizado foi patenteado como International Klein Blue). Para Fábio Tremonte, a cor azul, sempre presente em seus trabalhos, tem um significado especial que ele traduz por meio de uma frase de Clarice Lispector: "O inalcançável é sempre azul". 

No entanto, quando o artista escreve: "Eu acredito em Beuys", está, na verdade, autocitando-se. Trata-se de um happening que realizou em 2001. 

A performer iugoslava Marina Abramovic – que toma como referencial o próprio corpo em ações que exploram situações de dor e de resistência física – parece ser a maior inspiração de Tremonte ("Eu queria ser Marina Abramovic"). 

Assim, cabe refletir sobre o trabalho do artista como uma proposta conceitual que se aproxima do universo da performance. Não seria a escrita na parede um rastro de um ato performático, provocativo, no sentido de deixar um registro como que esperando a reação do público?

Os desenhos e monotipias de Fábio Tremonte contribuem e completam o universo criado pelas palavras. Na parede escrita, assim como nas monotipias e desenhos, aparecem aquelas figuras com vocábulos ou frases para explicar a imagem ou um estado de espírito. Esse é o caso de "saída" (parede), "buraco" (monotipia), "lágrima" (parede) e "às vezes sinto todo o peso do mundo sobre as minhas costas" (desenho), por exemplo. 

A questão do cotidiano volta a aparecer em casos como a referência que faz à gestação de sua filha, em uma monotipia, ou à sua infância, como no Auto-retrato sem roupa

O universo da arte surge com novas menções a Marina Abramovic (monotipia e desenho) e com as monotipias dos vasos de flores, denominados "esculturas". Nos desenhos, feitos a partir de fotos (assunto para outra reflexão), as pequenas áreas azuis remetem às paredes nessa cor, assim como o faz a palavra "azul", escrita em uma monotipia. É como um quebra-cabeça, no qual todas as peças se encaixam. 
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