Renata Lucas

Ribeirão Preto/SP, 1971

  • Falha (2003)
    madeira e metal
  • Cruzamento (2003)
    vista da instalação na intersecção das ruas Dois de Dezembro e Praia do Flamengo. Rio de Janeiro, Brasil. 
  • Falha (2003)
    madeira e metal
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Renata Lucas

Renata Lucas pensa o espaço como matéria. Investigando os elementos arquitetônicos, sua funcionalidade e contexto, a artista faz intervenções na arquitetura e no espaço público, como em Falha, apresentada na Temporada de Projetos. A obra consiste em uma estrutura de chapas de madeira que se organiza numa trama articulada, estendendo-se pelo piso do Paço das Artes. A artista participou da 27ª Bienal de São Paulo, em 2006, e da 53ª Bienal de Veneza, em 2009. Em 2010, fica em cartaz em individual no Wattis Institute for Contemporary Arts, em São Francisco. 

Guy Amado

Em seu fazer artístico, Renata Lucas parece pensar o espaço como matéria. Centrando seus interesses numa investigação acerca de elementos arquitetônicos, sua funcionalidade e a especificidade de seu contexto, inspira-se nos atributos espaciais de um local para realizar suas peças, em trabalhos que comentam e propõem novas relações com seu entorno.

Partindo de uma percepção totalizada do espaço, por ela tornado campo de ação, Renata opera sobre o mesmo tomando-o não apenas como um local para dispor a obra, mas como matéria-prima de fato, indissociado de sua prática e raciocínio artísticos. Tensiona e torna difusos, neste processo, os limites convencionais entre local reservado para abrigar a obra e o ambiente efetivamente reconfigurado pela intervenção realizada.

A relação de Renata com os materiais que emprega é sempre pautada por um mínimo de artifícios, em soluções que por vezes flertam com a precariedade. Há uma preocupação constante no sentido de se evitar o elemento retórico ou a alusão a qualquer componente de dramaticidade.

Ao expor as eventuais fragilidades e imperfeições dos materiais, as peças evidenciam suas feições cruas, que as afastam de leituras estetizantes e acentuam o aspecto mimético de que são investidas, em sua relação intrínseca com as características do local que habitam.

É o caso de Falha, trabalho aqui apresentado: uma estrutura de chapas de madeira que se organiza numa trama articulada, estendendo-se sobre o piso do Paço das Artes. Ao ser manipulada, a peça revela outras possibilidades de configuração espacial, tensionando a relação do plano horizontal de que parece emergir com a verticalidade incerta de sua nova conformação, originando camadas que podem ser desdobradas indefinidamente, sugerindo uma compactação simbólica do ambiente.

Transitando entre uma vontade de reordenar as coisas e a qualidade de simplicidade objetiva de suas intervenções, a fatura de Renata desenvolve-se sobre a assimilação de elementos espaciais preexistentes e a possibilidade de promover deslocamentos simbólicos nesses contextos. A artista absorve os limites arquitetônicos e os devolve em soluções que comentam silenciosa e poeticamente uma potencial incoerência dos lugares e funções dos objetos no mundo.
  • Realização: