Juliano de Moraes

Goiânia/Brasil, 1972

  • Sem título (2001)
    chapa de ferro e graxa
  • Sem título (2001)
    chapa de ferro e graxa
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Juliano de Moraes

Juliano de Moraes usa elementos como sal, graxa, madeira, ferro e grama para criar pinturas, desenhos, esculturas e instalações. Em 2001, apresentou uma série de peças e intervenções no Paço das Artes, estabelecendo um embate entre o plano e o espaço, questão recorrente em sua poética. Em 2006, selecionado pela segunda vez na Temporada de Projetos, montou a instalação Aceiros, abordando a paisagem e a adaptação de lugares externos em espaços fechados. O artista participou da 3ª Bienal do Mercosul, em 2001, e, em 2005, ganhou a bolsa residência no ateliê de gravura da Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre.

Guy Amado

A proposta aqui é um jogo, onde a forma é o instrumental para se estabelecer um campo de tensão em que algumas convicções, calçadas na fenomenologia do olhar, são abordadas e, por que não, abaladas.

Juliano de Moraes apresenta uma reflexão acerca do processo da percepção em si, que se abre para um questionamento, mais amplo, de sistemas e pressupostos instituídos pela tradição, particularmente no que se refere aos aspectos cognitivos da percepção e do condicionamento do olhar contemporâneo e dos mecanismos envolvidos neste processo; mais um desdobramento, em seu processo de investigações, do embate entre plano e espaço – mote primordial de sua poética. Viabiliza isso por meio de interferências diversas no espaço expositivo – volumes ou sugestões dos mesmos, em sua maioria constituídos por chapas de ferro, que insistem em permanecer ‘onde’ ou ‘como’ não deveriam, em arranjos variados.

À materialidade que suas peças reivindicam, o artista contrapõe intervenções gráficas em graxa, que executa nas paredes do mesmo espaço. Estes grafismos, incertos em seu lirismo descompromissado, antes de ‘complementar’ ou integrar-se às peças que circundam, atuam sobretudo como um contraponto a uma leitura essencialmente formalista que a obra como um todo pode evocar; configuram-se em última análise como elemento conflitante intencional e necessário, no pensar do artista, para melhor interpretação do trabalho. O artista parece perguntar, aqui, até que ponto a fluidez de uma linha ou o lirismo de uma forma abstrata pode avançar com autonomia, sem que se torne ela própria vítima de sua própria aparência – aqui entendida como índice cognitivo.

A presença ambígua das peças, sua localização estratégica e sua integração quase indesejada com a arquitetura local, contaminando o ambiente, induz o espectador a ser absorvido metaforicamente pelo trabalho ou rendido pela estranheza de suas formas, confundindo-as com o ambiente; só resta ao mesmo a adesão – em maior ou menor grau – a este jogo.

Uma possível inferência simbólica de seu trabalho – resumida à escolha dos materiais, como ferro, grama e graxa – é rapidamente anulada pela presença da cor negra que a um só tempo recobre e camufla todas as peças. Este negro, que recobre o ferro, toma as paredes e avança sobre a grama, passa ainda a atuar como elemento de estabilidade, conferindo unidade ao conjunto.

Partindo de uma abordagem essencialmente fenomenológica, o artista propõe uma investigação da mecânica do próprio mundo e da natureza enquanto campos de experiências da visualidade. Opera tanto pela manipulação simbólica – anulando o mesmo – quanto por uma abordagem que reitera seu ceticismo no olhar enquanto filtro de uma realidade que se apresenta mais e mais difusa, poluída pela profusão de imagens e signos que assalta a visualidade contemporânea.

Manipulando a noção de matéria e espaço e operando com códigos estéticos de categorias diversas como desenho, pintura, instalação e escultura, o artista parece indagar ao espectador, nessa experiência visual, sobre as instâncias do processo da construção do sentido. Em meio à tempestade sígnica, ao bombardeio de imagens e a recorrentes ‘crises da representação’ a que somos continuamente submetidos com cada vez menor possibilidade de assimilação, Juliano introduz um comentário pertinente sobre uma tentativa de reencontrar a ‘verdade’ nos dados originários da experiência; para tal, gera uma área de silêncio onde o sujeito contemporâneo possa refletir sobre essa condição.
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