• Imagem da exposição “Pintura e reciclagem: tudo junto e misturado”, de Alex dos Santos
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Alex dos Santos

Alex dos Santos nasceu e vive na cidade de Jaboticabal. Autodidata, iniciou-se na arte aos 17 anos, recolhendo tintas, materiais de sobra de construção, restos de papel e papelão que passaram a servir de suporte para experimentos com tinta, lápis de cor, carvão e colagens. Há mais de dez anos tem apresentado seus trabalhos em exposições individuais, em premiações e como convidado em diversas instituições. Suas obras estiveram presentes na primeira Bienal de Arte e Cultura de Jaboticabal, Galeria do SESC Ribeirão Preto (2008), Salão de Blumenau (2009), Salão de Santo André, Programa de Exposições do CCSP, MARP de Ribeirão Preto (2013) e 2ª Bienal Naif de Piracicaba com itinerância no SESC Belenzinho em São Paulo.

Marcio Harum

Abaixo, a entrevista concedida por Alex dos Santos ao crítico Marcio Harum.


O bate-papo foi feito em Jaboticabal no dia 15 de março de 2018 (um dia após a execução da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, relatora da Comissão da Intervenção).

Marcio Harum: Quando você acha que começou a desenvolver o seu trabalho como artista? Como se deu, quando considera que passou a trabalhar com as artes plásticas? Com pintura, desenho, colagem. Explique este momento do teu começo.

Alex dos Santos: Comecei em 1997 catando restos de papelão na rua e fui desenvolvendo o meu trabalho com este material, mas também com tela e outros reciclados. Pegava papelão para pintar, comecei a participar de exposições. Muito do que influi na arte que faço vem de pintores de outra época já falecidos como Basquiat, Picasso, Modigliani e Pollock. Então ter conseguido ser selecionado para a Temporada de Projetos do Paço das Artes, é como ser premiado com esse trabalho, isto me deixa muito feliz.

MH: Como você escolhia os materiais no início? Se era papelão, tecido, como e por que você elegia tais materiais exatamente?

AS: Quando visitei o MARP, o Museu de Arte de Ribeirão Preto, com o curador Nilton Campos, comecei a gostar de arte contemporânea. Não para fazer igual, mas para tentar criar algo diferente nos meus trabalhos. Infelizmente, quando a gente mora no interior, são poucas as pessoas que entendem de arte, e é por isso mesmo que me inscrevo em editais fora da região. Meus pais me aguentaram guardando um monte de pinturas em casa, eles sabem de toda a história, sabem o que passei na choradeira, na gritaria, mas acabou dando certo. Tento trabalhar com uma linguagem na qual os artistas não estão prestando muita atenção, talvez por isso tenha sido selecionado pelo Paço das Artes. É uma experiência muito forte, quanto mais vejo arte, mais me expresso. É como uma colmeia de abelhas, que de pouquinho em pouquinho vai aumentando de tamanho. Tento fazer fluir o que está na minha imaginação, o que não existe no mundo.

MH: Me fale mais dessas escolhas. Como, quando, por que você passa a selecionar o papelão, a tela, a lona, o papel, as imagens que usa retiradas de revistas por colagem, gosta de quais tintas, de que cores, se utiliza spray. Comente sobre os materiais que você usa para realizar o seu trabalho nos diversos suportes, tanto no desenho, quanto na pintura.

AS: A primeira coisa que faço é o rascunho no papel sulfite com lápis, cartolina ou papel de caderno de desenho. Depois passo tinta corante e latex xadrez sobre a lona de caminhão ou qualquer outro material que eu achar por aí andando de bicicleta, e vou ali tentando transformar a realidade, procuro revistas e jornais também. Com tinta esmalte eu não trabalho por causa do cheiro. Amarelo, azul, vermelho, preto e laranja são as cores no meu trabalho. O papelão é um material difícil para a conservação. Tenho retalhos de sofá coletados. Tudo o que me incomoda parece que vira trabalho, como aquele que vocês viram no meu ateliê sobre o atendimento do pronto-socorro, que tem injeções, preservativos, misturo assuntos de ciências e arte, dos seres humanos e vivos. Tudo que vejo, uma porta de guarda-roupa, caixas de papelão, tudo o que encontro na rua, eu pego e levo para o ateliê. Sei que muito do que faço não vai agradar a todo mundo, uma privada por exemplo.

MH: De criança, como era a tua relação com papel, caneta, lápis, desenhar, pintar? Como se passou na infância o teu contato com tintas?

AS: Pegava imagens de santos, minha família não tinha dinheiro para comprar tinta e material de pintura para mim. Isto durou até eu conseguir um trabalho e ter dinheiro para comprar telas para pintar, gosto de pintar sobre a tela. É bom para vender depois. Comecei com carvão rabiscando no chão, papelão, retalhos de madeira e restos de tinta latex branca. E giz de cera, lápis de cor e caderno de desenho tinha só na escola. Quando criança eu não sabia fazer nada, foi na adolescência que comecei a me interessar por arte, dos 15 aos 17 anos. Até rolo de papel kraft do trabalho do meu pai eu usava. Minha mãe também pinta, começou no tempo dela.

MH: Você sonha com arte?

AS: Não. Mas sonho que estou em museus.

MH: Não? Mas quando sonha, sonha com o quê?

AS: Pra mim fazer arte é sobreviver. A arte é invisível. É uma coisa que não tem fim, não agrada a todo mundo e interessa a poucas pessoas que visitam as exposições. O jovem tem que estudar, ter criatividade, liberdade de expressão, correr atrás das coisas, acreditar em si próprio. Depende da pessoa, de qualquer classe, mas ela depende do trabalho dela, e do que ela expressa. Já ajudei a muitos artistas que estão começando, apoio que se inscrevam em editais, são muitos os caminhos. Meu sonho é fazer uma exposição em Nova York. E na Bienal de São Paulo.

MH: São 17h. Vamos ter que pegar a estrada de volta a São Paulo por umas 4 horas. Então vamos dar por encerrada esta conversação em formato de entrevista para a tua exposição na Temporada de Projetos 2018 do Paço das Artes. Muito obrigado, Alex. E muito obrigado também aos pais do Alex. 
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