• Imagem da exposição "Não podemos construir o que não podemos imaginar primeiro", dos curadores Thiago de Paula Souza e Jota Mombaça

  • Imagem da exposição "Não podemos construir o que não podemos imaginar primeiro", dos curadores Thiago de Paula Souza e Jota Mombaça

  • Imagem da exposição "Não podemos construir o que não podemos imaginar primeiro", dos curadores Thiago de Paula Souza e Jota Mombaça

  • Imagem da exposição "Não podemos construir o que não podemos imaginar primeiro", dos curadores Thiago de Paula Souza e Jota Mombaça

  • Imagem da exposição "Não podemos construir o que não podemos imaginar primeiro", dos curadores Thiago de Paula Souza e Jota Mombaça

Small_arrow_left Small_arrow_right

ARTISTAS

Lista de artistas curadoria





Não podemos construir o que não podemos imaginar primeiro

Thiago de Paula Souza e Jota Mombaça

Texto dos curadores Jota Mombaça & Thiago de Paula Souza sobre a mostra “Não podemos construir o que não podemos imaginar primeiro”.  

É possível trabalhar na criação de realidades que possam escapar das operações hegemônicas de poder? Em NÃO PODEMOS CONSTRUIR O QUE NÃO PODEMOS IMAGINAR PRIMEIRO, meditamos sobre mundos que ainda não existem, enquanto tentamos elaborar modos de desafiar as construções normativas do mundo em que estamos. Especulamos sobre futuros possíveis - quando falamos sobre uma vida sem violência policial, por exemplo, onde já não somos recortados em função de nossas marcas (raciais, de gênero, etc) e podemos circular sem a pressão desse estado de brutalidade e terror que nos ronda 24/7, estamos, como nas palavras de Walidah Imarisha, “coletivamente imaginando um futuro, o que significa que podemos começar a trabalhar para fazê-lo existir.”

NPCOQNPIP é, assim, articulada como uma plataforma em que convergem múltiplos programas especulativos dissidentes. A pergunta de Rosa Luz em sua foto-manifesto “E se  a  arte    fosse  travesti?”,    por   exemplo, além      de    demandar      uma  maior representatividade   travesti   e   trans   na   arte,   enseja   esse   movimento simultaneamente contestatório e provocador que forma o núcleo da imaginação negra. É também como evento contestatório que a performance de Rafael RG propõe re-dinamizar os códigos da racialidade, como se fizesse a pergunta “e se os corpos brancos estivessem na posição de subalternidade historicamente legada aos corpos negros, de que forma a violência racial se faria perceber?”. Essas interrogações e perguntas atravessam a exposição como um todo, de formas mais ou menos explícitas. Em Boca I, vídeo-instalação em dois canais de Michelle Mattiuzzi, a interação   entre     imagem  e    palavra  constitui     uma  força  que    navega entre a literalidade e a abstração, abrindo espaço para uma forma de articulação política que prescinde de noções estáticas de clareza e inteligibilidade. O que está em jogo, tanto aí quanto na instalação sonora de NEGRO LEO, é a possibilidade de constituir uma força especulativa capaz de manter certas coisas em aberto, numa negociação permanente entre o que precisa ser tornado evidente e o que precisa se mover pela sombra. O filme de Denise Ferreira da Silva & Arjuna Neuman, Serpent Rain, parte precisamente desse lugar de indefinição produtiva a fim de constituir o corte rumo a um outro materialismo, isto é, outra forma de ler e produzir o mundo com base no ritmo de seus elementos. Finalmente, Clitória Terantea: exercício construir/imaginar, de Juliana dos Santos forma uma teia que conecta diversas camadas de saber e representação, da fotografia à cor azul, dos saberes transmitidos a ela por sua mãe (nomeadamente, de como erguer as paredes de uma casa) aos saberes contidos na fisiologia e química da flor que dá nome ao trabalho.

“A gente combinamos” com Conceição Evaristo de não morrer agora e, para cumprir este combinado, precisamos acionar novas e velhas maneiras de ocupar os espaços éticos, estéticos e políticos da memória e do futuro. NPCOQNPIP visa, portanto, expor e contrapor padrões normativos que regulam a relação entre o social e o possível, refletindo sobre o que precisa ser destruído e em que condições isso deve ocorrer para que sejamos capazes de reconfigurar nossos horizontes. Entretanto também dançamos sobre as ruínas do que já foi destruído; numa dança que é mais um reconhecimento da quebra nas histórias, afetos, subjetividades e corpos não-brancos do que uma tentativa de recuperar ou projetar qualquer tipo de plenitude.

  • Realização: